Combate às drogas baseado na proibição é "caminho para o desastre", diz especialista

23/10/2009 - 15h07

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As políticas de enfrentamento à questão do tráfico e do consumo dedrogas baseadas na proibição são um “caminho para o desastre”. Aavaliação é do detetive aposentado da Polícia de Nova Jersey, nosEstados Unidos, Jack Cole. Para ele, que trabalhou infiltrado no mundodo narcotráfico em seu país de origem por mais de dez anos, a repressãotem um custo alto para o Estado e traz pouca eficácia no dia a dia dasociedade.  Para justificar sua hipótese, Cole citou a política norte-americana de combate às drogas.“Quandoa nossa política de combate começava, na década de 1970, os estudosapontavam que cerca de 1,3% da população era viciada em algum tipo dedroga. Por conta disso, começamos uma guerra, com custos deaproximadamente US$ 100 milhões ao ano. Passadas algumas décadas, osgastos que temos nessa área já chegam a US$ 70 bilhões e o percentualde viciados continua nos 1,3%", argumentou. "Além disso, mesmo com toda essapolítica, as apreensões passaram de gramas a toneladas. Enquanto o graude pureza aumentou muito, o preço das drogas se torna cada vez menor.Por tudo isso, podemos dizer que é uma política fracassada”, afirmouele, que participou hoje (23), no Rio de Janeiro,da 2ª Reunião da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia. Oencontro reúne, durante todo o dia, especialistas para discutir avançose desafios nas políticas de combate às drogas.Ele tambémcriticou o fato de que, com a proibição do consumo, torna-se mais fácila crianças e adolescentes adquirir essas substâncias no mercado ilegaldo que as chamadas drogas lícitas, como álcool e cigarro. “Nasruas, eles não querem saber se o comprador tem documento deidentificação, se tem idade suficiente, como ocorre nos Estados Unidos paraliberar a venda de bebidas alcoólicas, por exemplo. Nas ruas, eles sóquerem saber se o comprador tem o dinheiro [para comprar a droga]”,acrescentou.O diretor de Combateao Crime Organizado da Polícia Federal, delegado Roberto Troncon, acredita que essa medida nãorepresenta uma solução definitiva. “Já se sabe que a visão da Organização das Nações Unidas de dez anosatrás de que erradicaríamos as drogas ilícitas em uma década foi irreale utópica. Então pensamos: ‘Se as drogas fossem liberadas por leiacabaríamos com a violência no Rio, por exemplo?’ Me parece que não.Trata-se de uma questão muito complexa. Existem grupos de pessoas jáprofundamente envolvidos com o crime que ficariam sem emprego”,afirmou, admitindo que neste caso esse contingente poderia migrar paraoutras atividades criminosas.Ele defendeu, ainda, que arepressão policial, como a praticada pelas polícias nas favelascariocas, seja a última etapa do processo de combate às drogas.“Antesdisso, precisamos pensar em prevenção, com ações de educação, saúde epresença do Estado. Mas se nada funcionou, não podemos abrir mão decombater o crime [com ações policiais]. A solução é complexa porque temque integrar a prevenção, melhorias no sistema penitenciário, que hojemais produz criminosos do que os recupera, programas de tratamento aosusuários e por último, ação policial”, ressaltou.Troncon tambémcomentou o episódio envolvendo dois policiais militares acusados deomitir socorro ao coordenador da organização não governamentalAfroReggae, Evandro João da Silva, assassinado na madrugada de domingo (18) após um assalto. Os agentes teriam roubado os pertences da vítima levados pelos criminosos, que não foram presos. “Nenhuma organização prospera se não agir com muita força neste aspecto. É preciso ter tolerânciazero com desvios de conduta e uma política de valorização dospoliciais, que vão todos os dias para as ruas defender a sociedade,expondo a risco suas próprias vidas. Eles devem ser bem preparados,remunerados e ter condições mínimas para exercer suas funções”, afirmou.