Mais da metade dos professores reconhece falhas em cursos de formação, aponta pesquisa

22/10/2009 - 19h30

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Os cursosde formação inicial não contemplam todas ascompetências necessárias para ser professor, na opiniãode 51% dos 3.512 educadores de ensino básico entrevistadospara a pesquisa A Formação e a IniciaçãoProfissional do Professor. Apenas 18% disseram acreditar que asfaculdades oferecem toda a capacitação necessária,enquanto 30% não tinham opinião sobre a questão.O levantamento, divulgado hoje (22), foielaborado pela Organização dos Estados Ibero-Americanose a Fundação SM. A pesquisa ouviu principalmente (96%) professores da rede pública. Apesar deapontarem deficiências nos cursos, 57% deles acreditam que a formação inicial estádiretamente ligada à qualidade do ensino.

“Oscursos de formação são bons. A questão éque eles ensinam coisas erradas, que não têm valia para arelação de ensino e aprendizagem que depois acontece nasala de aula”, disse a responsável pela análise dosdados da pesquisa, Gisela Wajskop.

Doutora em educação, Gisela afirmou que os cursos depedagogia revisam uma série de teorias de ensino de maneirageneralista. Segundo ela, os professores não aprendem nem astécnicas para transmissão do conhecimento nem como serelacionar com os alunos. “Como o professor aprende por repetiçãoe memorização, ele vai ensinar por repetiçãoe por memorização”.

O cursode pedagogia é responsável pela formaçãode 43,6% dos entrevistados. Quase o mesmo número deconsultados (43%) afirmou que essa qualificação nãooferece equilíbrio entre a teoria e a prática.

Osestudantes são os maiores prejudicados pela incapacidade dosprofessores em transmitir o conteúdo de maneira a gerarreflexão, na avaliação de Gisela. “Quem seprejudica são as crianças, os jovens e os adolescentesque aprendem apenas a memorizar noções e não seapropriam do conhecimento como instrumentos de reflexão etransformação do mundo.”

Osprofessores, no entanto, também sofrem com a falta depreparação para lidar em sala de aula. “Imagina ummenino entre 20 e 30 anos que aprendeu os teóricos daeducação, mas que não aprendeu o procedimento deorganizar uma turma que grita”, exemplifica a educadora.

Deacordo com a pesquisa, 39,7% dos professores com menos de trêsanos de experiência pensaram seriamente em abandonar aprofissão nos últimos anos. O número cai para25% quando se considera todas as faixas de experiência.

Estágiossupervisionados e outra atividades que permitam a observaçãoe interação do ambiente escolar sãorecomendações de Gisela para tentar solucionar oproblema.

NaFinlândia, por exemplo, dentro das universidades existe umaescola de treinamento onde os alunos têm desde o início docurso até a experiência de trabalhar dentro de uma sala de aula, contou o professor do Instituto Finlândes de Pesquisa daUniversidade de Jyväskylä, Jouni Välijärvi.

Entretanto,ele ressaltou que essa experiência tem uma duraçãomuito curta para que o educador tenha uma noçãocompleta da profissão. Por isso, Välijärvi explicouque o país está aprimorando a formaçãodos professores por meio de um sistema de estudo e discussãodentro das escolas. “Atualmente, estamos desenvolvendo um sistemaem que os professores mais velhos ajudam os mais novos quando chegam à escola. Eles discutem sobretudo que os mais jovens necessitam eestão sempre disponíveis, apoiando os mais novos edividindo a sua experiência.”