CNTE aponta envelhecimento dos professores e desinteresse pelo magistério

15/10/2009 - 6h54

Gilberto Costa e Amanda Cieglinski
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Os professores brasileiroscomemoram hoje (15) o seu dia na expectativa de que a Leido Piso Salarial Profissional, aprovada pelo CongressoNacional e sancionada em julho do ano passado pelo presidente daRepública, finalmente “pegue” e seja adotada por todasunidades da federação.“O grande presenteque poderia ser dado aos professores neste momento é oreconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da constitucionalidadeda Lei 11.738 que estabeleceu o piso nacional para os docentes”,assinala Roberto Franklin Leão, presidente da ConfederaçãoNacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE).A adoçãodo piso e a melhoria da carreira podem reverter o envelhecimento daprofissão e o desinteresse dos mais jovens pelo magistério,acredita Leão. Segundo ele, a falta de renovaçãojá compromete a disponibilidade de professores de matemática,química, física e biologia. “O salário émuito baixo. A perspectiva de fazer o percurso da carreira émuito obscura, sujeita a toda sorte de sobressaltos. O professorprecisa saber o que lhe espera nesses 25 ou 30 anos que ele percorredurante a vida profissional”, aponta o presidente da CNTE.Roberto Leão vêno Poder Público a responsabilidade de reverter o quadro. “Senão houver por parte das autoridades responsáveis pelaeducação uma vontade de tornar a carreira do magistériomais atraente, nós vamos passar por dificuldades maiores doque as atuais”, diz, criticando processos de avaliaçãodos professores baseada no desempenho dos alunos. “Éinjusto. Não se pode avaliar o professor pela nota que recebeo aluno sem considerar as condições de vida do estudante, a origem familiar e os espaços sociais quefrequenta”.Aos problemas dacarreira do magistério, o presidente da CNTE associa a violênciana escola, a indisciplina e a má-criação dos alunos.“A violência não é uma coisa da escola. Aviolência está na sociedade e a escola faz parte darealidade. Mas essa situação de violência tambémé sim um fator para que as pessoas pensem: 'eu ganho pouco,não tenho carreira, eu ainda vou me sujeitar a ser agredidopor um menino?'”, ressalta. Na opinião dohistoriador e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Jaime Pinsky, o magistérionão tem mais prestígio e em sala de aula o professorlida com uma maior a irreverência dos alunos, “que àsvezes ultrapassa os limites da educação”, diz, acrescentando que em todos os níveis sociais os pais estão“terceirizando” as funções da família para aescolas e estão cobrando dos professores responsabilidades quenão são suas.Para Leão, “aescola precisa ficar atraente para os alunos. Por mais pobre que osalunos sejam, há a possibilidade de eles estarem em contatocom as novas tecnologias. Há um descompasso: enquanto osalunos são digitais, a escola é analógica”. Jaime Pinsky avalia queo papel do professor mudou nos tempos de internet, celular enotebook. “Não cabe mais levar informação, masrelacioná-las e transformá-las em conhecimento”. Para ele, a mudança exige formação teóricamais sólida dos professores e mais leitura. “Em geral, osprofessores lêem muito pouco. Muitas vezes, utilizam os própriosmanuais e livros didáticos que adotam para aprender sobre oconteúdo que precisam ministrar. Se a publicaçãotem falhas, ele não tem conhecimento para superar essaslacunas”, afirma Pinsky. O historiador lamenta o “pacto damediocridade” entre escola, professor e aluno. “Um finge queaprende. O outro finge que ensina. O empregador finge que paga bem”.Perguntado em entrevista coletiva sobre os problemas de formaçãodos professores, o ministro da Educação, FernandoHaddad, afirmou que o MEC está possibilitando “acessoirrestrito” dos docentes à universidade pública. “Porisso, lançamos o Plano Nacional de Formação deProfessores para que todo professor possa ter uma formaçãoadequada. Os 50 mil primeiros professores já foram inscritos evamos reabrir as inscrições para o primeiro semestre de2010".O plano ofereceformação a três perfis diferentes deprofissionais: primeira licenciatura para professores que nãotêm curso superior; segunda licenciatura para aqueles que jásão formados, mas lecionam em áreas diferentes da quese graduaram; e licenciatura para bacharéis que necessitam decomplementação para o exercício do magistério.Segundo o MEC, até 2011 serão oferecidas 331 mil vagasem universidades públicas, reservadas exclusivamente peloplano.