Pesquisa da USP quer identificar causas de aumento do número de bebês prematuros

11/10/2009 - 12h40

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O número cada vez maior de nascimento de bebês prematuros pode estar relacionado com o estilo de vida que grande parte da sociedade vem desenvolvendo. Outros fatores como o aumento da poluição, da violência, além de alterações psicológicas, como a depressão, também podem estar associadas ao índice.A hipótese será investigada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Eles vão acompanhar o nascimento de aproximadamente 14 mil bebês na cidade de Ribeirão Preto e em São Luís (MA). As gestantes começarão a ser observadas nos próximos meses. Dados do Ministério da Saúde revelam que, entre os anos de 1997 e 2006, a proporção de bebês prematuros passou de 5,3% do total de nascimentos no país para 6,7%. Os números absolutos  chamam ainda mais atenção: em 1997 nasceram no Brasil 21.560 bebês nesta situação. Em 2006, foram 194.783. O aumento, de acordo com o professor Marco Antônio Barbieri, pediatra e epidemiologista responsável pela investigação, está sendo observado em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) são considerados prematuros os partos que ocorrem antes da 37ª semana de gestação.Para Barbieri, o mundo está passando por uma transição epidemiológica perinatal, mas ainda não há estudos que expliquem todas as razões. De acordo com ele, algumas causas da prematuridade já são conhecidas, como a hipertensão e a desnutrição materna, além da realização de cesarianas marcadas e os avanços científicos que permitem salvar bebês que morreriam antes de nascer. Ele destaca, no entanto, que os fatores já comprovados representam apenas cerca de 40% dos partos prematuros.Segundo o especialista, o estresse leva o corpo humano a liberar o hormônio CRH (hormônio liberador da corticotropina), que pode desencadear o trabalho de parto antecipado. “Vamos verificar os impactos do estresse causado por depressão, diversos tipos de violência, situações de discriminação racial ou falta de suporte social, na antecipação de partos. Já sabemos que o estresse emocional pode desencadear a liberação do hormônio CRH, que tem efeito cascata, influenciando a liberação de outros hormônios que sinalizam a hora do nascimento. Se for estimulado antes, o trabalho de parto também pode começar antes”, explicou.Outro caminho para a estimulação antecipada desse hormônio que o estudo pretende investigar é o uso de drogas ilícitas, além de álcool e cigarro durante a gravidez, como resposta da gestante ao estresse.“Muitas mulheres submetidas a pressões sociais e psicológicas acabam fazendo uso dessas substâncias, que também podem contribuir para a liberação do CRH”, acrescentou. A funcionária pública Irene Rocha acredita que um trauma vivido no início de sua gestação pode ter influenciado o parto prematuro, aos sete meses e meio. “Foi uma gravidez muito desejada e um dia, por causa de fortes cólicas, fui a uma emergência obstétrica onde a médica me disse que eu havia perdido o bebê. Só após três dias a minha médica confirmou que a gestação continuava normalmente. Foi um alívio, mas o trauma inicial foi muito grande e a gravidez foi toda marcada por isso porque a ansiedade durante todos aqueles meses foi muito forte. O meu filho acabou nascendo aos sete meses e meio e, embora não haja nada comprovado cientificamente, a gente acredita que tudo isso tenha contribuído para antecipar o nascimento”, contou.O filho de Irene, hoje com 1 ano, se desenvolve bem física e psicologicamente. Mas não é isso que acontece com todos os bebês prematuros. A chefe do setor de pré-natal do Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz, Carmem Cunha, explica que crianças que nascem antes das 37 semanas de gestação podem ter comprometimentos no desenvolvimento motor, neurológico, alterações visuais, entre outros. Para realizar o estudo, serão acompanhados aproximadamente 14 mil nascimentos em Ribeirão Preto (SP) e em São Luís (MA). As gestantes começarão a ser observadas até o fim do ano. Numa segunda fase, os pesquisadores pretendem verificar as consequências da prematuridade, acompanhando o desenvolvimento físico e intelectual dos bebês até que eles completem 1 ano de vida.