Agência alega falta de espaço e necessidade de síntese para justificar erro

09/10/2009 - 7h45

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - Estes foram osargumentos usados pela Agência Brasil para justificar umainformação errada publicada no título da matéria STJreitera que motorista é obrigado a fazer teste do bafômetro emblitz,no dia 28 de setembro. Apesar do conteúdo da notícia não afirmar oque estava em seu título, a informação induzia à obrigatoriedadelegal do teste. Paraos leitores que leram apenas o referido título ou que não voltaramàs páginas da ABrdepois dele ser modificado, ficou valendo a informação errada,ou seja, de que a Justiça havia decidido que se o motorista for paradoem uma blitzele é obrigado a fazer o teste do bafômetro. A correção do título se deu depois que esta Ouvidoria recebeu eencaminhou duas mensagens de leitores atentos que advertiram sobre oerro. GenaroMoacir Prates escreveu: “Meparece que está errada a manchete da matéria que diz que MOTORISTAÉ OBRIGADO A FAZER TESTE DO BAFÔMETRO[grifo do leitor]. Nãoé esse o texto.... foi negado pelo STJ um habeas Ccrpus porque nãohá direito violado enquanto não houver a ação, ou seja, estariamconcedendo uma ordem onde não há ameaça. STJ entendeu que nessetipo de habeas corpus a liberdade de locomoção não estava emrisco. Ainda será julgada no Supremo Tribunal Federal (STF) uma açãodireta de inconstitucionalidade (Adin) contra a Lei Seca E mais, oSTJ não é competente para apreciação inconstitucionalidade, é o Supremo que esta estudando a matéria. O erro da manchete pode levaras pessoas a se submeterem ao teste”.Jáo leitor Fernando Miranda lamentou: “Costumousar o site como referência para notícias no meu trabalho. Mas amatéria 'STJ decide que motoristas são obrigados a fazer teste dobafômetro' é de uma infelicidade enorme. Não sei se quiseram fazersensacionalismo, ou se a pessoa que elaborou a matéria não sabeinterpretar um texto. O STJ NÃO obrigou ninguém a fazer o teste dobafômetro. Só decidiu que ninguém pode andar com um habeas corpuspreventivo para se excusar de fazer. Percebem a diferença? Quemquiser, pode continuar a não soprar.”Emresposta aos leitores a ABrinformou: “ Agradecemoso comentário do leitor e lembramos que, por questão de espaço e denecessidade de síntese, pode ser que um título acabe algumas vezesresumindo muito as informações de uma notícia".Ouseja, a Agêncianão admitiu o erro em sua resposta aos leitores, mas modificou otítulo que passou a ser: STJ nega habeas corpusa motorista que contestava teste do bafômetro em blitz.Talvez, para ser mais precisa, a manchete poderia citar que o STJnegou o habeas corpus preventivo a motorista, pois foi o caráterantecipativo que estava em julgamento e, portanto, era o foco danotícia.Masao tentar se justificar, alegando“ questão de espaço e de necessidade de síntese” aABrnão incorreu em outro erro?  Diferentemente do que afirmaram, não foio caso de “resumiremmuito as informações de uma notícia”,e sim de que inventaram uma informação que não constava do corpoda notícia. O leitor Genaro Moacir Prates apontou que o texto dareportagem não conversava com a manchete. Então por que procederamdessa maneira? Fernando Miranda levanta duas hipóteses: fazer sensacionalismo oudificuldade de interpretação do texto. No primeira hipótese –sensacionalismo, a agência pública não precisa lançar mão dessetipo de recurso para atrair a atenção do leitor pois seu orçamentoé pago antecipadamente pelo contribuinte, que tem direito à informação precisa,isenta e imparcial. No segundo caso, se for confirmada a dificuldadede interpretação, ela não requer a requalificação de seusprofissionais para que consigam lidar com a informação dentro dosparâmetros de responsabilidade que o jornalismo exige?De qualquer forma,falta de espaço e necessidade de síntese são duas característicasbásicas da realidade de qualquer site de notícias. A elasainda se soma a necessidade da rapidez no processamento dasinformações. No entanto, nada disso pode ser usado comojustificativa para dispensar a precisão do noticiário. Tentarjustificar tal erro em vez de admiti-lo, não contribui para que nãose cometa mais imprecisões e equivocos. A relação com o leitorprecisa se pautar sempre pela transparência - é ela que leva àconfiabilidade e à credibilidade. Informações erradas, segundo asestatísticas desta Ouvidoria baseadas na percepção dos leitores,deram origem a 39 demandas nos últimos três meses, todas elasrelatadas pela Ouvidoria-Geral ao Conselho Curador da EBC.Até a próxima semana.Observação:os relatórios da Ouvidoria Geral da EBC para o Conselho Curadorencontram-se publicados na coluna ao lado direito da página daOuvidoria da Agência Brasil em arquivo no formato PDF.