Para Ipea, Brasil ainda vai levar 20 anos para erradicar analfabetismo

08/10/2009 - 6h54

Gilberto Costa*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasilvai levar ainda 20 anos para erradicar o analfabetismo da populaçãode 15 anos ou mais. O cálculo é do Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgou mais uma análisedos microdados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2008, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A análise do Ipea indica que há “baixa eficácia” nosprogramas de alfabetização. “Entre os atuaisanalfabetos, apenas uma pequena parte está frequentando aescola.”O texto afirma que há “problemas de desinteresse dos analfabetosem procurar os programas” e também  “erro de foco”, de“estratégias pedagógicas” e “sériasdificuldades de aprendizagem” dos alunos do ensino de jovens eadultos.“Éuma população difícil de lidar porque grandeparte é mais velha e já está há muitotempo no mercado de trabalho”, explica Jorge Abrahão deCastro, autor do estudo e diretor de Estudos e PolíticasSociais do Ipea. “As pessoas analfabetas fazem parte daquele enormetime da população com quem há uma dívidaenorme. Não foi investido em educação o queprecisava nos anos 50, 60 e 70, e essas pessoas tiveram dificuldadede acesso à escola”, aponta o diretor.Em entrevista à Agência Brasil, JorgeAbrahão disse que acredita que oanalfabetismo “pode ser reduzido por efeito de políticapública”, mas no texto que assina explica que até omomento o analfabetismo só sofreu quedas por causa da  mudança na composiçãoda população e da morte de pessoas mais velhasanalfabetas.“A queda do analfabetismo se processa fortemente peloefeito demográfico e menos pelas iniciativas do governo ou dasociedade civil. Portanto, a queda do analfabetismo estáocorrendo pela escolarização da populaçãomais nova e pela própria dinâmica populacional, com asaída dos idosos analfabetos [morte]”.Segundoos dados analisados, a taxa de analfabetismo atinge 10% da população,7,2 pontos percentuais a menos do que em 1992. O percentual éconsiderado elevado na comparação com outros paíseslatino-americanos como o Chile, a Argentina e o Equador. A taxa deanalfabetismo é maior na parcela um quinto mais pobre da população(19%), no Nordeste (19,4%), na área rural (23,5%), entrepretos e pardos (13,6%) e com mais de 40 anos (16,9%).Adesigualdade verificada na raiz do analfabetismo também éconstatada em outros níveis de ensino, como por exemplo aeducação infantil. A taxa de frequência àcreche entre crianças de 0 a 3 anos é de 18,1% e menosde 80% dos meninos e meninas de 4 a 6 anos frequentam a pré-escola.Na faixa etária da creche, a frequência é menorentre as crianças da Região Norte (8,4%); pretas epardas (15,5%); do meio rural (7,2%) e entre os mais pobres (10,7%).Mesmo noensino fundamental, onde o acesso à escola é consideradouniversal (97,9% das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos frequentam bancos escolares),o Ipea sublinha o "hiato" do sistema educacionalbrasileiro no século 21. “A eficiência sistêmica deixa muito adesejar”, assinalou Jorge Abrahão, apontando que apenas 55 em100 alunos que concluem o ensino fundamental estão na idade adequada (9º ano, com 14 anos de idade).ParaJorge Abrahão a chamada “defasagem idade/série”,causada pela reprovação e retenção dosalunos, afeta a autoestima de quem fica na escola e aumenta osgastos com educação. “Os estudantes permanecem nosistema além da idade prevista e do tempo necessáriopara conclusão, reduzindo a quantidade de recursos disponíveispara aqueles alunos que avançam normalmente e de acordo com asua idade”, aponta o estudo.Alémda educação, a análise do Ipea sobre os microdados da Pnad também tratou de gênero e ocupação(trabalho doméstico) e migração.