Chineses e brasileiros articulam aliança estratégica

30/09/2009 - 9h45

Tereza Cruvinel
Enviada Especial
Pequim (China) - As relações entre oBrasil e a China, que começaram a se qualificar no governo FernandoHenrique Cardoso, ganharam impulso nos dois mandatos de Luiz InácioLula da Silva, tendo como marco decisivo a visita do presidentechinês Hu Jintao ao Brasil, em 2004.Os dois paísesconstituíram um comitê bilateral de alto nível, e o Brasilfinalmente reconheceu a China como economia de mercado, nos termos daOrganização Mundial do Comércio (OMC), recebendo algumas críticaspor isso.Desbancando os EstadosUnidos, a China tornou-se em 2009 o maior parceiro comercial doBrasil. Em dez anos, as exportações brasileiras para aquele paíscresceram mais de 18 vezes, passando de US$ 904,9 milhões, em 1998,para US$ 16,4 bilhões, em 2008.As relações políticassão estreitas, fortalecidas pela constituição do grupo Bric(Brasil, Rússia, Índia e China). A cooperação em várias áreas éintensa, com destaque para o programa conjunto de lançamento desatélites de rastreamento.No último dia 7 desetembro, data nacional brasileira, o jornal China Daily publicouartigo de Lula e de Hu Jintao destacando a importância desterelacionamento e reiterando a disposição para aprofundá-lo emtodos os planos. Uma chuva de números detalhou o relacionamentocomercial em um artigo na mesma página.O político e analistaargentino Rafael Bielsa escreveu recentemente um artigo intitulado Brasil e China – Duas Potências se Saúdam, no qual aponta aaliança estratégica entre os dois emergentes como um movimento dealta relevância no cenário internacional, que vai muito além daclássica divisão de trabalho, em que o Brasil venderiamatérias-primas e a China, produtos industrializados. Mas não ébem assim, diz ele, destacando os investimentos de empresasbrasileiras como a Petrobras e a Vale, na China.As vendas de minériode ferro da Vale para a China são cruciais para a mineradorabrasileira. Os embarques, segundo fontes da empresa, totalizaram35.611 milhões de toneladas no segundo trimestre deste ano,representando 66,2% do total exportado pela empresa.Se a China é o maiorcliente da Vale, é também um grande fornecedor de máquinas eequipamentos para mineração, o que se traduziu em importações daordem de US$ 2,7 bilhões no ano passado. Além do comércio, a Valeparticipa de oito joint-ventures com empresas chinesas nasáreas de níquel e carvão. Esta aliançaestratégica, que preocupa vizinhos como a Argentina e parceiros maisdistantes, pode ser mal percebida aqui, mas na China é altamentevalorizada e divulgada. A palavra Brasil desperta interesse especial.O futuro é sempre umponto de interrogação, mas saber mais sobre a China deixa a certezade que será preciso uma grande marola na economia internacional paratirar a locomotiva dos trilhos. E quanto ao Brasil nesta parceria,outra coisa é certa: o século 21 dará passagem aos paísesemergentes e o eixo geopolítico terá uma inclinação forte para oPacífico, uma rota que o Brasil vem explorando com ousadia, tal comoos navegantes portugueses que, em outra época, alargaram asfronteiras do mundo.