Para sociólogo, problema brasileiro não é de raça mas de desigualdade de classe

27/09/2009 - 12h00

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A desigualdade social é o problema mais marcante no Brasil. Para o sociólogo Jessé Souza, professor da Universidade Federal de Juizde Fora, apesar de o racismo ser um "drama real, virulento e que infringe dor e sofrimento para toda uma vida, o aspecto invisível dadesigualdade social nunca foi a raça, mas sim o pertencimento àclasse social".

Odado da raça torna esse processo de classificação social aindamais difícil para algumas pessoas, mas não o explica na suadimensão mais essencial nem é o dado mais determinante. Apenas aincrível cegueira com relação à reprodução da desigualdade declasses pode explicar que se fale sempre em raça e nuncaem classes. Tudo entre nós serve para tornar as classes, o esquemamais fundamental de produção de desigualdades e injustiças de todotipo, invisível”, analisa o sociólogo que organizou o livro ARalé Brasileira: quem é e como vive. Nolivro, o intelectual alinha mais tijolos na construção de uma teoria socialsobre a modernidade brasileira, que se caracteriza por um agudoprocesso de desigualdade social. O livro fala sobre a brasilidade esobre as desigualdades de classe, gênero e cor.O sociólogo acredita que, comoapenas as raças são visíveis, o debate se torna pobre e superficial. SegundoJessé, a raça sempre serviu – com sua própria 'visibilidade'- para obscurecer a classe desde a construção do mito do encontroracial. Nesse mito, “as raças encobrem as classes e a mestiçagemé percebida como prova empírica de uma nação com mobilidadesocial e abertura”.

Jessé Souza se opõe ao “guetodo racialismo” e tenta com a sua teoria social mostrar que a desigualdade “tem a ver, antes de qualquer outra coisa, comprocessos pré-reflexivos e emocionais em ação desde a mais tenraidade e no seio da família”, teoriza o sociólogo sobre areprodução das classes sociais.