Famílias pobres são mais vulneráveis ao desaparecimento de crianças e adolescentes

23/09/2009 - 9h54

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Nos últimos nove anos,pelo menos 1.257 crianças e adolescentes brasileiros desapareceram.Segundo estatística disponível no site da Rede Nacional deCrianças e Adolescentes Desaparecidos (ReDesap), pouco mais da metade(648) conseguiu ser encontrada e 609 permanecem desaparecidas.Asunidades da Federação com mais registros de desaparecidos no período são Distrito Federal(297), Rio de Janeiro (144), São Paulo e Sergipe (ambos com 126),Goiás (94) e Minas Gerais (72). O problema é mais comum emregiões metropolitanas do que no interior dos estados.Apesarde expressivos, os números devem estar subestimados, avalia oantropólogo Benedito Rodrigues dos Santos, coordenador da rede esecretário executivo do Conselho Nacional dos Direitos da Criança edo Adolescente (Conanda). Segundo ele, a informação é colhida portelefone e ainda não há um sistema para cadastramento em tempo realdos casos registrados nos serviços de SOS Criança e nas delegaciasde proteção às crianças e adolescentes.Santos acredita que amaioria dos casos de desaparecimento começa com fuga do lar pormotivo de conflito familiar, envolvendo violência física e atésexual. “A fuga é um sinal de sanidade para escapar da violência.O problema é que entre fugir de casa e o local onde a criança ouadolescente vai ficar podem acontecer muitas coisas e osdesaparecidos ficam vulneráveis às redes de aliciamento paraexploração e tráfico.”Para o antropólogo, é precisomudar a cultura do castigo físico e educar as crianças com base nodiálogo. O Poder Público também deve estar mais próximo. “Aeducação das crianças dentro de casa ficou reservada ao mundoprivado das famílias, e nós estamos percebendo que elas têm muitadificuldade nisso”, diz Santos, ao analisar que os novos arranjosfamiliares (com novos casamentos dos pais ou famílias com apenas umdos pais) devem ser considerados no entendimento do problema deviolência doméstica, assim como a perda de autoridade de paisbiológicos ou padrastos.Conforme o secretário executivo doConanda, as crianças pobres, mais vulneráveis socialmente, sofremmais. “A classe média tem ainda alguma imunidade. Guarda relaçõesde parentesco, pelas quais as crianças podem circular”, avalia.Segundo ele, os meninos e as meninas pobres que fogem acabam encontrando“formas de sobrevivência em redes clandestinas”, como tráficode drogas e exploração sexual.Santos chama atenção paraos casos de “desaparecimento enigmático” de crianças que somemna rua ou são levadas de dentro de casa. Estima-se que esses casos, que são pouco solucionados, representem de 10% a 15% do total. “Esse é o tipo mais dramático porque é um percentualmuito pequeno de crianças que são achadas. E é elevado o númerode crianças encontradas mortas, com sinais de violência e sevícias[maus-tratos e crueldade]”, alerta.Para o secretárioexecutivo do Conanda, o sumiço de crianças é mais “um fenômenosocial” do que caso de polícia. Mas ele alerta que é fundamentalentrar em contato com a polícia e não esperar 24 horas para comunicar odesaparecimento. “Uma ação imediata da polícia pode sercrucial.”Benedito Rodrigues dos Santos participou nessaquarta-feira (22) de audiência pública na comissão parlamentar deinquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que trata dodesaparecimento de crianças e adolescentes. Um projeto de leiproposto pela CPI, já aprovado na Câmara, tramita no Senado Federalpara criar o Cadastro Nacional de Crianças Desaparecidas. Nos dias 6e 7 de outubro, será promovido em São Paulo um seminário sobredesaparecimento de crianças e adolescentes para fins de tráfico eexploração sexual.