Ambientalistas e agricultores concordam que ciência deve mediar debate entre os dois setores

23/09/2009 - 0h02

Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O debate entreos ambientalistas e ruralistas deve ser mediado pela ciência. Esse foio consenso apresentado hoje (22) por lideranças dos dois lados quese encontraram no seminário promovido pela Confederação daAgricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para discutir o meio ambientee a produção de alimentos no país.O deputado federalFernando Gabeira (PV-RJ), o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, oex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João PauloCapobianco, e a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, expuseramsuas ideias sobre o assunto a uma plateia de estudantes,parlamentares e técnicos da área. Eles disseram que muitas dasdesavenças entre os ambientalistas e ruralistas se devem a generalizações radicais feitas por ambos. “O ponto de partidade todos tem que ser compatibilizar a produção e a preservaçãoambiental. Se houver isso, poderemos chegar a um acordo mais rápidodo que imaginamos e acabar com essa ridícula separação. Oambientalista precisa comer e o ruralista precisa do meio ambiente.Estamos falando a mesma coisa”, afirmou Capobianco. Ele ressaltou que o usoda ciência é muito importante, mas os agricultores precisam estarpreparados para as conclusões das pesquisas. No caso das áreas dePreservação Permanente (APP), às margens dos rios, por exemplo,assim como haverá locais em que poderá ser feito um ajuste paralegalizar as matas já abertas, também poderá ser exigido oreflorestamento de outras, consideradas fundamentais para apreservação dos recursos hídricos. A senadora Kátia Abreudestacou que o Brasil tem 56% de sua cobertura vegetal originalpreservada, sendo o país com o segundo maior índice do mundo,perdendo apenas para a Rússia, que tem grande parte dessas áreasimpróprias para agricultura devido às baixíssimas temperaturasregistradas no país. Mas também reconheceu que o setor agropecuáriocometeu erros. “Queremos corrigir esses erros, de acordo com aciência, com a pesquisa, e não como alguns querem”, afirmou. Apresidente da CNA criticou os debates isolados egeneralizações feitas por muitas organizações não governamentais ambientais, que fazem“deboches” oferecendo, por exemplo, “troféus motosserra” aalgumas lideranças na discussão sobre uma nova legislaçãoflorestal para o país, e revelou que mesmo entre os produtores rurais é muitodifícil chegar a um consenso. O ex-ministroPaolinelli manifestou seu entusiasmo com a integraçãolavoura-pecuária-florestas, boa para o meio ambiente e também parao produtor rural. Ele criticou, entretanto, a atuação do Estado,que não tem um modelo de crédito rural. “O seguro rural, definidona Constituição, até hoje não foi criado”, afirmou. Sem seguropara o setor, ele disse que a sustentabilidade da agricultura ficaameaçada, pois o produtor não tem a garantia de renda. Gabeira, o último afalar, observou que sempre em sua carreira política procuroudefender o que é estratégico para os agricultoresbrasileiros, mas muitas vezes foi julgado como fazendo o contrário.“Temos que nos aproximar da ciência, porque ela pode desfazeresses desacordos”, afirmou. Uma das causas do país não progredirna área ambiental, segundo ele, se deve à “prisão ideológica”de vários atores desse processo. O deputado reforçou aimportância da discussão permanente.“Muitas vezes, algo que éconsiderado uma crítica, na verdade serve para situar o Brasil nomercado estratégico mundial”, disse ele, exemplificando o caso dorastreamento do gado, que no ano passado gerou o embargo da carnebovina brasileira pela União Europeia e, agora, está sendodesenvolvido pelo governo e pelos pecuaristas. A exigência de 80% depreservação para a Amazônia é algo a ser discutido, segundoGabeira, sempre com a mediação da ciência. Ele ressaltou,entretanto, que podem existir estudos com conclusões diferentes.“Também não podemos ser ingênuos. Há temas em que a ciênciadiverge, como é o caso das mudanças climáticas”. Nesse caso, odeputado diz que entram em ação, legitimamente, as forçaspolíticas. Para encerrar, disse que, o país deve não apenaspreservar a floresta, mas investir em pesquisas para torná-lalucrativa.