Especial - 15 de setembro de 2008: quebra do Lehman Brothers dá início à crise que abalou o mundo

15/09/2009 - 10h18

Daniel Lima, Kelly Oliveira e Wellton Máximo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Há um ano obanco de investimentos Lehman Brothers, considerado na época oquarto maior dos Estados Unidos no setor, anunciava que pediriaconcordata. Falhava assim a tentativa das autoridadesnorte-americanas de evitar a contaminação do mercado financeiro e oagravamento da crise que começou no sistema hipotecário dopaís.Um dia antes, um domingo, autoridades financeiras e degrandes instituições tentaram uma saída, sem sucesso, parasocorrer o banco, fundado há 159 anos. A decisão pela concordata eo anúncio de um prejuízo de US$ 3,9 bilhões provocou instabilidadenas bolsas de valores do mundo todo, levando pânico aos operadoresdo mercado financeiro.Dias antes, o Bank of America, numa operação de US$ 50 bilhões,tinha adquirido a Merryl Linch e acreditava-se que um operaçãoparecida poderia salvar o Lemon, mas isso não ocorreu, pois oBarcley da Inglaterra desistiu.No dia 15 de setembro, aBolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) apresentou desvalorizaçãode 7,59%, a maior queda desde os ataques de 11 de setembro de 2001,quando a baixa foi superior a 9%.Em todo o mundo os bancoscentrais começaram a adotar medidas para socorrer suas economias e oBrasil, que passava ao largo da crise, entrava em estado de alerta.Nessa semana anterior, se reuniu no Brasil o Comitê de PolíticaMonetária (Copom) do Banco Central para definir a taxa básica dejuros.O cenário externo fez com que o comitê elevasse a taxa básica dejuros, a Selic, de 13% para 13,75%, mesmo nível de outubro de 2006.Na ocasião, a direção do BC avisou em sua ata da reuniãodivulgada uma semana depois que a “ percepção de risco sistêmicopermanecia elevado” por conta da “severa” crise financeirainternacional.O risco sistêmico ocorre quando há temor deque uma instituição financeira não tenha recursos suficientes parapagar a outra, causando um “efeito dominó”, ou seja, levando aocolapso toda a estrutura de bancos e financeiras.O comitêconsiderava que a intervenção do governo dos Estados Unidos emgrandes empresas de financiamento imobiliário poderia “ ser vistacomo condição necessária, mas provavelmente não suficiente, paraa superação da crise”.A ata da reuniãoregistrava que o crescimento das economias emergentes continuavaforte e até aquele momento aparentemente havia sido afetado de formalimitada pela crise hipotecária nos EUA, “constituindo contrapontoaos efeitos da desaceleração das economias maduras”. Por outrolado, especialistas ouvidos pela Agência Brasil afirmavam quea crise nos Estados Unidos estavam longe do fim.O custo do crédito começava a aumentar no Brasil, por causa dadificuldade de captação externa por conta da crise. Os bancos, queanteriormente captavam recursos no exterior a custo mais baixo,  como agravamento da crise nos Estados Unidos começavam a recorrer aosrecursos no mercado interno.Com isso, o BC adotou medidaspara tentar aumentar a liquidez (recursos disponíveis na economia),como redução de depósitos compulsórios (dinheiro que os bancossão obrigados a deixar depositados no BC) no total de R$ 99,8bilhões durante a crise, estímulos para que bancos grandescomprassem carteiras de médios e pequenos, uso das reservasinternacionais para em linhas de crédito, autorização para quebancos oficiais comprassem ações de instituições financeirasprivadas sem licitações, venda de dólares das reservasinternacionais, entre outras ações.Desde o dia 8 de maio, oBC voltou a comprar dólares. De acordo com o banco, até o dia 8 desetembro, dos US$ 39 bilhões de dólares vendidos no mercado àvista ou emprestados às empresas, US$ 32,6 bilhões voltaram àsreservas.Quanto ao volume de crédito do sistema financeiro,segundo o BC, a situação está melhor do que a pré-crise, mas aspequenas e médias empresas ainda precisam de aumento da oferta.Noúltimo domingo (13), o presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmouque o Brasil está preparado para retomar o crescimento. "Antes,os investimentos eram baixos e quando o país ia sair de uma crisenão estava preparado. Aí vinha a inflação e todos aquelesproblemas", afirmou. Parao professor de economia Alcides Leite, da Trevisan Escola deNegócios, o saneamento do sistema financeiro, o acúmulo de reservasem moedas estrangeiras, o ajuste fiscal realizado nos últimos anos eoutras características tornaram a economia brasileira menos expostaà crise financeira internacional, e “isso ajudou o Brasil aenfrentar a crise com mais facilidade do que outros países”.