Conservação do Mosteiro de São Bento recupera história, arte e arquitetura do Centro do Rio

13/09/2009 - 16h04

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Patrimôniohistórico, cultural e acima de tudo religioso dos mais antigos doRio de Janeiro, o Mosteiro de São Bento passa por um processo deconservação das suas instalações que começou há dois anos edeve terminar daqui a outros dez, na previsão do seu Diretor dePatrimônio, D. Mauro Fragoso, que também é professor de históriada arte da faculdade São Bento.“Acabamos de ver concluídaa conservação de duas das nove capelas, a do Santíssimo Sacramentoe a capela-mor, que tomaram dois anos de trabalho”, contou odiretor, esclarecendo que toda a reforma depende de patrocínio comoo obtido para a capela-mor, com a Petrobras, a de Santo Amaro e a doSantíssimo Sacramento, com o Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES).A obra de conservação – termoque dom Mauro prefere a restauração – inclui a parte mais crítica,a detecção e combate aos cupins, que comprometiam a sustentaçãodas duas capelas agora entregues, mas prossegue com a recuperaçãode todos os elementos, até as folhas de ouro que emprestam ao seurevestimento o esplendor do barroco religioso brasileiro.Ascapelas ainda pendentes de patrocínio para as obras são a de NossaSenhora da Conceição, Nossa Senhora do Pilar, Santa Gertrudes, SãoLourenço, São Brás e São Caetano. A de Santo Amaro, cujaconservação começou em abril., deverá se entregue no mês quevem. Fundado em 1590, quando o Rio de Janeiro era uma cidade deapenas 25 anos, o mosteiro beneditino foi instalado inicialmente naErmida de Nossa Senhora do Ó, na atual Praça XV. De lá,transferiu-se para o outeiro, hoje Morro de São Bento, doado porManuel de Brito, amigo do fundador da cidade, Estácio de Sá.Ainstalação definitiva do Mosteiro e da Igreja de Nossa Senhora deMonserrat, que compõem o conjunto arquitetônico, começou em meadosdo século 17 e só terminou 90 anos depois, em 1742. Até oconjunto mantém as características originais do período econstitui o exemplo histórico mais importante do centro do Rio deJaneiro.“Com o passar do tempo, houve também uma misturade estilos, comum na história da arquitetura brasileira. A capelamor, por exemplo, tem uma parte barroca e outra parte rococó”,disse a restauradora Rejane Oliveira dos Santos, contratada para aconservação pela empresa que cuida da recuperação dos telhados eoutras partes não artísticas ou religiosas das construções.Emconcordância com dom Mauro Fragoso, Rejane também apontou aocorrência de cupins como a principal preocupação na conservaçãodo mosteiro, porque tudo é à base de madeira muito antiga: “Nacapela mor chegamos a encontrar cupins vivos, o que é difícil,porque o cupim é fotossensível e não costuma estar à vista,exposto à luz”.O conjunto do Mosteiro de São Bento estáincluído na área do projeto de revitalização da zona portuáriado Rio de Janeiro, como outro morro, o da Conceição, comfortificação, instalações militares e casario do século 18.“Eram quatro os morros do centro do Rio: do Castelo, deSanto Antônio, da Conceição e de São Bento”, Rejane lembrou. DoMorro de Santo Antônio, restam hoje o convento e a igreja do mesmonome e a capela da Ordem Terceira de São Francisco, junto ao Largoda Carioca. A maior parte foi eliminada com a expansão do centropara a Rua do Lavradio, no lugar onde hoje está a Avenida Chile.Omorro do Castelo foi desfeito em 1922 à base de jatos d’água,motores elétricos e máquinas a vapor, a pretexto de melhorar aventilação no centro da cidade e para abrir espaço àscomemorações de centenário da Independência. Sua importânciahistórica remonta a 1567, antes mesmo da chegada dos beneditinos aoRio – daí o conjunto do Morro de São Bento ser hoje a memóriamais antiga do centro carioca.