Cidade dos Meninos resiste a meio século de contaminação por pesticida e discute o futuro

12/09/2009 - 18h08

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Prestes a completar seis décadas, um dos mais antigos passivosambientais do Rio de Janeiro volta à discussão, pelo CanalSaúde, da Fundação Oswaldo Cruz, num programa gravado que estarádisponível no site www.canalsaude.fiocruz.brjá no começo da semana.Tudo começou em 1950, com a fábricade pesticida do antigo Ministério da Educação e Saúde implantadanos arredores de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na áreaonde funcionava havia sete anos a Cidade dos Meninos. Lá, em amplosespaços ocupados por várias construções, abrigavam-se garotosórfãos e carentes em regime de internato.A partir de 1947,instalou-se também na área o Instituto de Malariologia doministério, que em três anos inaugurou a fábrica dehexaclorociclohexano (HCH), conhecido como Pó de Broca, e amanipulação de outros compostos organoclorados, como odiclorodifenilcloroetano (DDT).Como o nome do institutosugere, a produção química da fábrica destinava-se ao controle deendemias transmitidas por vetores, como malária, febre amarela edoença de Chagas. Na época, era mais barato produzir no país doque importar, mas quando a equação se inverteu, em 1956, a fábricafoi desativada e esquecida.Em 1983, uma fiscalização parasaber a origem do Pó de Broca à venda na feira livre de Duque deCaxias chegou a nada menos de 40 toneladas do pesticida, abandonadasna área da Cidade dos Meninos, naquela época já sob administraçãoda Fundação Abrigo Cristo Redentor, extinta em meados dos anos90.De lá para cá, a crescente conscientização tanto daadministração pública em todos os níveis quanto das populaçõesafetadas elevou a questão dos moradores da Cidade dos Meninos aonível de problema de solução urgente. Mas além da transferênciado pesticida para a área da Refinaria Duque de Caxias, da Petrobras,em 1999, e da remoção de dez famílias que habitavam o ponto demaior contaminação por HCH na Cidade dos Meninos para o centro deDuque de Caxias, em 2001, pouco se avançou.Foi também em 2001 quese divulgou o “relatório final” recomendando a desocupaçãoimediata de toda a área da Cidade dos Meninos, que abrigava quase400 famílias e já tinha uma produção de leite,hortifrutigranjeiros e carne de galinha, porco e vaca – tudocontaminado. Passados praticamente nove anos, o cenário continua omesmo.O engenheiro químico Alexandre Pessoa, um dosresponsáveis pelo relatório lembra que em 2001 a própria cadeiaalimentar estava contaminada e que a área de saúde do governo, daqual fazia parte, determinou uma série de providências parasalvaguardar a saúde dos moradores locais.“A situaçãocontinua preocupante porque não se chega a um acordo, e, além daspessoas, estão contaminadas as cerca de 4 mil cabeças de gadobovino, porcos, galinhas e outros animais, além das frutas e daágua”, adverte.O sanitarista Oscar Berro, secretário deSaúde em Duque de Caxias por quatro anos e também convidado para odebate do Canal Saúde, concorda com a gravidade da questão e apontainteresses diversos que dificultam o entendimento:“Algunsatores”, diz, “não compreendem que é preciso tratar a questãosanitariamente, e ficam, discutindo indenização, dinheiro, quandofalamos de saúde das pessoas, O que adianta receber indenização enão ter saúde?”