Invasores de fazenda dizem ter recebido incentivo de políticos locais, afirma delegado

11/09/2009 - 18h25

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O delegado de polícia Raimundo Batalha atribuiu a “oportunismo eleitoral” a ocupação da Fazenda São Cristóvão, na cidade de Pio XII (MA), a cerca de 270 quilômetros da capital São Luís. Batalha afirma ter colhido depoimentos de pessoas que afirmam ter invadido a área de 71 hectares, no último sábado (5), com o estímulo de políticos locais.O delegado afirma que os invasores não integram nenhum movimento social organizado. Entretanto, defende que a “operação bem orquestrada” sugere a existência de lideranças experientes, razão que o leva a não descartar a hipótese de que o grupo tenha sido incentivado por vereadores cujos nomes ele preferiu não revelar. Batalha garante que, se encontrar indícios do envolvimento de políticos com o grupo, também pedirá que eles sejam presos preventivamente.“Não há nenhum movimento popular organizado por detrás destas pessoas, mas ao que parece elas estão sendo coordenadas por dois vereadores que as estão manipulando”, declarou o delegado à Agência Brasil, por telefone.Um dos filhos do dono da fazenda, o professor José Ribamar Jorge Andrade, diz ter ouvido relatos sobre a suposta participação de dois vereadores – Maria Fernandes, a Duduca (PSB) e Edimundo Pescador (PSL) -, além do possível envolvimento do vice-prefeito, Francisco José Braga de Oliveira, o Franzé. Duduca e Franzé negam ter qualquer ligação com os invasores.“Ele [o vice-prefeito] me ligou e disse não ter nada a ver com isso. Aí eu disse que tinha uma gravação [em vídeo] com um ocupante dizendo que ele estava metido na invasão. Cabe a ele esclarecer tudo e, se for o caso, processar quem o envolveu”, disse o professor.Procurados pela reportagem, o vice-prefeito e a vereadora negaram qualquer participação com o episódio. “Em momento algum eu tive conhecimento ou dei apoio a esta invasão”, afirma Maria Fernandes, alegando que a entidade a que pertence, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, desaprova invasões, sobretudo as violentas. A vereadora afirma que só esteve no local dois dias depois do episódio, a convite de um conhecido.“Eu nem sei a que atribuir terem nos apontado como mandantes. Entendo que por eu fazer oposição ao prefeito e ser sindicalista, me apontem, mas me admiro que mencionem os nomes do doutor Franzé e do Edmundo, vereador da base aliada. Acho que isso é simplesmente para colocar a gente na fogueira”, declarou Maria Fernandes, afirmando não saber se a Fazenda São Cristóvão está ou não em área pública.“Não tenho conhecimento da documentação [da propriedade]. Tanto o seu Cristino [de Arruda Andrade] como os invasores são meus amigos, mas eu não sou leviana e não vou dizer nem que sim, nem que não. O que posso dizer é que moro aqui há mais de 20 anos e sei que a família também mora lá desde que eu era criança e eu sempre ouvi dizer que a propriedade é do seu Cristino, mas não sei dizer se a cerca avança ou não sobre área do município”, concluiu a vereadora.O vice-prefeito, que é médico, disse conhecer alguns dos invasores por causa de suas atividades profissionais. No entanto, ele afirma não saber quem é a pessoa que aparece no vídeo apresentado pelo filho do dono da fazenda. Ele afirmou prestar serviços para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, mas negou ter tempo para participar de atividades políticas. E disse ainda não saber se a área ocupada pertence ou não ao município ou se a prefeitura tomou alguma medida para minizar os conflitos. “Eu não sei de nada. Sou o vice, mas praticamente nem ando na prefeitura. Sei apenas que o prefeito se prontificou a ajudar no que fosse necessário.”O vice-prefeito afirmou estar tranquilo e disse não ter tomado qualquer providência em relação às acusações de que seria um dos mandantes da invasão. “Estou achando é bom porque meu nome agora está na mídia", brincou."Já me disseram que o delegado está até pensando em me chamar e eu estou doido para enricar. Vou enriquecer às custas deste delegado [caso seja preso preventivamente]. Quero ficar no mínimo 30 dias preso, tranquilo.”A reportagem não conseguiu entrar em contato com o vereador Edimundo Pescador.