Campanha da Fraternidade de 2010 terá como tema economia e vida

10/09/2009 - 20h24

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - OConselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (Conic), que reúne cinco igrejas, lançou na tarde de hoje (10), aos pés do CristoRedentor, no Rio de Janeiro,o material da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, que tem o temaEconomia e Vida e o lema Vocês não podem servir a Deus e aodinheiro.O lema foi retirado do Evangelho de Mateus capítulo 6, versículo 24. Participaram do lançamento o secretário de EconomiaSolidária do Ministério do Trabalho, o economista Paul Singer, osubsecretário da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência daRepública, Perly Cipriano, e a senadora Marina Silva (PV-AC).O secretário-geral do Conic, reverendoLuiz Alberto Barbosa, fez a apresentação do tema, destacandotrechos bíblicos que serviram de inspiração e embasaram o objetivogeral da campanha, a ser iniciada no dia 17 de fevereiro, quarta-feirade Cinzas do ano que vem. “Colaborar na produção de uma economia aserviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir doesforço conjunto das igrejas cristãs e de pessoas de boa vontade, paraque todos contribuam na construção do bem comum, em vista de umasociedade sem exclusão”.Sempre a partir do texto da Bíblia, oreverendo enfatizou a necessidade da formação de militantes, de umpolítica sindical que lute pelos direitos “dos pobres sem trabalho, semmoradia, sem garantias de sustento para si e suas famílias”. “Nossaatitude diante do dinheiro mostra muito o tipo de pessoa que somos. Porisso, Jesus diz 'onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teucoração'. Se o enriquecimento e a acumulação continuam a ser o sonho denossa sociedade, os valores se invertem e colocamos em segundo plano apessoa, sua vida, sua dignidade, seu bem-estar”, disse.A senadora Marina Silva manteveo tom de marcante religiosidade da cerimônia, ao dizer que “não estamosaqui porque temos um compromisso na agenda e quisemos cumpri-lo.Estamos aqui porque alguém nos amou primeiro, nos acalentou e nos deu ascondições para seguirmos nosso caminho. Não basta pensarmos em nossosfilhos e netos, temos de pensar em quem ainda não nasceu”.Asenadora citou um dos patriarcas bíblicos para ilustrar seu raciocínio. “Quando Abraão plantou um bosque quase aos 100 anos de idade, nãoimaginava que 20 anos depois descansaria na sombra das suas árvores.Nós também temos que pensar no futuro. A economia está ligada às basesnaturais, a agricultura à terra fértil, a indústria à agua disponível.Temos de pensar eticamente como realizar esta harmonia.”Marinacitou, ainda, um pensador europeu que disse ser impossível “amar a simesmo sem amar ao outro”, como prega o evangelho. “Isso é muitoprofundo e quando eu li a primeira vez pensei que ele estavacontradizendo Jesus, que manda amar ao próximo como a ti mesmo. Masentendi que você é quem o próximo vê e ama, daí, se você não ama ooutro, também não amará você mesmo”, disse.Ela condenou o modelo capitalista do lucro rápido e abundante e asociedade pragmática característica do capitalismo atual. “O amor aopróximo e a si mesmo cria o círculo virtuoso que rompe a crueldadedesse mundo em que você não pode ser utópico, idealista, nem sonhador”.Ao fim de seu discurso, Marina lembrou sua saída do governo comoexemplo de luta. “Um jornalista me perguntou se eu me sentiaderrotada, e eu disse que a derrota ou a vitória só se mede na história.Luther King foi derrotado pelos que o mataram, mas Obama é o símbolo davitória de sua luta. Mandela foi derrotado para aqueles que oprenderam, mas o fim do apartheid na África do Sul foi sua vitória. Oassassinato de Gandhi foi sua derrota para quem o assassinou, mas aindependência da Índia foi sua vitória na história.” Orepresentante dos Direitos Humanos na Presidência da República, PerlyCipriano, seguiu o tom dos outros discursos, afirmando que“devemos trabalhar para termos uma sociedade mais justa, fraterna esolidária. É preciso que eu olhe para trás para ver o irmão e pensar:será que ele é atendido em suas necessidades?”Ciprianodestacou, também, a escolha do local para a solenidade ecumênica, sob aestátua do Cristo Redentor no Morro do Corcovado. “É muito simbólicolançar o material da próxima campanha aos pés do Cristo e tendo todoesse verde em volta”, observou, referindo-se à Floresta da Tijuca.Oeconomista Paul Singer, secretário de Economia Solidária do Ministériodo Trabalho, por sua vez, destacou o êxito do programa que dirige e quetem convênios com 26 dos 37 ministérios do Executivo. “Eu sonhava comuma Campanha da Fraternidade sobre economia e vida, porque nós temosvárias economias e vidas nesse país de quase 200 milhões de pessoas”,disse.Ele recordou o tempo de juventude, quando queria destruiro capitalismo, reconhecendo que hoje quer superá-lo. “A economiacapitalista é injusta, o mundo é tremendamente desigual, muitos nascempredestinados a não vencer. A lógica da sociedade capitalista é ter um punhado de ricos e uma massa que se sente fracassada”.Deacordo com Paul Singer, a economia solidária tem sido uma ferramentacontra as distorções do capitalismo brasileiro. “Ela crescevigorosamente e é reconhecida cada vez mais pelo povo e pelos governosmunicipais, estaduais e pelo federal, onde defendo que não somoscondenados a viver no capitalismo. Que diabo de economia é esta?”, perguntou.Participaram do lançamento do material da campanha o presidente do Conic, pastor CarlosMöller, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos doBrasil, dom Dimas Lara Barbosa, o diretor-executivo das Edições CNBB,Valdeir dos Santos Goulart e eclesiásticos das demais igrejas que formam o Conic.O Conic éintegrado pela Igreja Católica Apostólica Romana, pela Igreja EpiscopalAnglicana do Brasil, pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana noBrasil, pela Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e pela IgrejaPresbiteriana Unida. A Campanha da Fraternidade, iniciativa doscatólicos desde 1964, teve caráter ecumênico em 2000 e 2005.