Conhecimento sobre produção de bomba atômica é essencial para o país, dizem especialistas

09/09/2009 - 18h50

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A publicação da pesquisa do físico brasileiro Dalton Girão Barrososobre o funcionamento do mecanismo de uma bomba atômica representa umtrunfo estratégico para o Brasil, segundo especialistas em assuntosmilitares. Girão Barroso desenvolveu,em sua tese de doutorado, um modelo matemático que poderia ser aplicadoem um artefato nuclear.O pesquisador de Assuntos Militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Expedito Bastos acredita que ter o conhecimento para produzir uma bomba atômica é uma peça importante de “barganha” no cenário político internacional.Essa visão é compartilhada pelo coordenador do Núcleo de EstudosEstratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), EuricoFigueiredo. Segundo ele, saber fazer um artefato nuclear é estratégicopara o Brasil, principalmente no contexto da política de defesanacional, na qual a “dissuasão” tem papel chave.“Adissuasão quer dizer o seguinte: você tem uma arma e eu tenho uma outra. Logo, você imagina que não pode apontar sua arma para mim, porquese você apontar minha retaliação será muito forte e,portanto, o custo-benefício do seu ataque não será propício a você”,afirmou Figueiredo.Ambos concordam, no entanto, que há uma distância grande entre ter acapacidade de produzir e efetivamente construir uma bomba atômica.“Nós assinamos diversos tratados que não nos impedir de fazer isso [produzir a bomba] abertamente. Há um preço a pagar, talvez muitoalto, para querer ter uma bomba”, disse Expedito Bastos.Alémde ser signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, oBrasil expressa, em sua própria Constituição Federal, que todaatividade nuclear realizada em território nacional deverá ter fins pacíficos.Figueiredoacredita que o Brasil é um país que vem despontando como um dosprincipais atores globais e, por isso, deve começar a discutir sedeseja ou não integrar o grupo de nações que possuem arsenais nucleares.“No médio prazo, o Brasil teráque discutir a questão da energia nuclear aplicada a outros fins, quenão sejam pacíficos. Por que essa necessidade vai surgir? O Brasilcaminha para se tornar um dos dez países mais importantes do mundo. E, na medida em que as grandes potências dispõem também deste artefato, a sociedade brasileira terá que se esclarecer a respeito da conveniência, ou não, de contar com tais armamentos.”Orisco do Brasil decidir por investir em pesquisas sobre armas nuclearese produzir tais artefatos, segundo Expedito Bastos, é que o país poderáser isolado internacionalmente, como ocorreu com oIraque (durante o regime de Saddam Hussein), a Coreia do Norte e até o Irã(apesar de não ter um programa oficial de armas nucleares, o Irã é acusado pelos Estados Unidos e a Europa de manter um projeto secreto).