Funai reconhece falhas na prestação de assistência aos guarani kaiowá

04/09/2009 - 11h26

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Aadministradora regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) emDourados, Margarida Nicolleti, admite a ocorrência de atrasos naentrega de cestas básicas e de sementes para projetos agrícolas nasaldeias e acampamentos indígenas no sudoeste de Mato Grosso do Sul.Durante visita de quatro dias à região, a equipe da AgênciaBrasilouviu reclamações de diversos líderes sobre a assistênciaprestada pela fundação às comunidades. Os índios da etnia GuaraniKaiowá sonham em recuperar áreas onde viveram seus antepassados eque hoje são ocupadas por fazendas.SegundoMargarida, a implementação de projetos agrícolas nas reservasdepende do repasse de recursos pela Funai às administraçõesregionais. A Funai nacional, por sua vez, também precisa aguardar aliberação de verba pelo governo federal. Osatrasos na distribuição de cestas se limitam, de acordo com aFunai, a 22 comunidades que recebem o auxílio duas vezes por mês. “Éum trabalho operacional difícil. Às vezes chove demais e asestradas ficam muito ruins”, alegou Margarida, em entrevista portelefone.A administradora considera, assim como o MinistérioPúblico Federal (MPF), a estrutura funcional da Funai na regiãoinsuficiente diante do desafio de atender 40 mil índios, muitos vivendo em condição degradante. “A gente também temfeito essa solicitação à presidência da Funai. É precisomelhorar o quadro, com profissionais qualificados de áreas afinscomo serviço social e agricultura de subsistência, para podermosprestar um bom serviço à comunidade, da forma que os índiosmerecem”, disse. Para a Funai, o preconceito agrava asituação dos índios confinados em pequenos espaços na região.“Infelizmente existe muito preconceito e desconhecimento da cultura[indígena]por parte da sociedade. Isso faz com que as pessoas tenham umentendimento diferente do que é o índio e da forma como ele vive”,destacou a administradora.Margarida criticou a postura defazendeiros que responsabilizam a Funai pela precariedade dasaldeias.“No meu ponto de vista, a responsabilidade é detoda sociedade brasileira. Os governos do passado causaram esseproblema, tirando índios de suas terras tradicionais e colocando empequenas áreas. A Funai não tem como melhorar atendimento semespaço. Há áreas que não tem onde plantar. Temos 23 acampamentosà beira de estrada onde não se tem o que fazer a não ser a açãoemergencial de entrega de mantimentos.” Segundo aadministradora, a Funai não pode remover os índios que vivem emacampamentos improvisados às margens de rodovias. Para minimizar oproblema, a fundação distribui cestas básicas e doa lonas, casacose cobertores para as famílias que esperam pelo reconhecimento deáreas tradicionais.“A Funai não trabalha com aprerrogativa de tirar [índio]aqui e colocar lá. Os próprios grupos que foram para beira deestrada não querem retornar para aldeias velhas, porque saíram delá para não brigarem entre si pelo espaço reduzido, com famíliasmuito próximas umas das outras. Não aceitam retornar por falta decondições de vida digna”, explicou.