Comissão responsabiliza setores estratégicos da economia pela violência no campo

04/09/2009 - 12h18

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior mostram que as exportações brasileiras geraram mais de US$ 70 bilhões em divisas para o Brasil no primeiro semestre deste ano e garantiram umsuperavit de mais de US$ 14 bilhões. O resultadopositivo deveu-se a setores competitivos da economia nacional, como produção de celulose,minério de ferro, carne, açúcar e etanol. Sóno mês passado, esses setores exportaram mais de US$ 2 bilhões.

Adespeito da importância econômica, os mesmos setores sãoapontados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) comoresponsáveis pela violência no campo. “Boa parte doPIB [Produto Interno Bruto] é obtido não só com o suor, mas com o sanguedos trabalhadores. Tanto no branco do açúcar, quanto nocheiro do álcool, assim como no minério de ferro e nacarne. O sangue e o suor dos trabalhadores é exportado em altaescala”, acusa Dirceu Luiz Fumagalli, coordenador nacional da CPT.

SegundoDirceu, tais setores econômicos juntamente com a produçãoda celulose se baseiam em um modelo produtivo que gera exploraçãoda mão de obra, expulsão de trabalhadores do campo edegradação ambiental.

“Omodelo é esse da grande extensão, do monocultivo paraexportar. É o mesmo modelo agrário desde as sesmarias”,diz, fazendo referência à forma de ocupaçãode terras e de produção iniciada pelos portugueses noperíodo colonial, ainda no século 16. “Mesmo sob o Estado dito democrático, não democratizamos o acesso àterra”, afirma o coordenador, lembrando especialmente amanutenção de latifúndios agora voltados para oagronegócio.

A CPTdivulgou relatório sobre os conflitos no campo nos seisprimeiros meses de 2009. Segundo a comissão, o númerode conflitos por terra, água e direitos trabalhistas (366,envolvendo mais de 193 mil pessoas) apresentou queda de 46% nacomparação com o mesmo período do ano passado,mas a violência aumentou proporcionalmente.

De acordocom Dirceu Fumagalli, em cada 57 famílias de trabalhadoresrurais uma foi despejada (a média do primeiro semestre do anopassado foi de 1 despejo a cada 70 famílias). “Quando ocapital não expulsa, o Estado despeja”, afirma.

O númerode assassinatos também aumentou. Entre janeiro e junho desteano, uma pessoa foi morta a cada 160 envolvidas em conflito (a médiado mesmo período em 2008 foi de uma pessoa assassinada a cada230). O número de pessoas envolvidas em conflitos saltou de445 pessoas no ano passado para 528 este ano.

Ocoordenador da CPT chama a atenção para o fato de que casos de conflito,exploração da mão de obra e degradaçãoambiental ocorreram em todo o território nacional, inclusive“nos ditos estados ricos do Sul e Sudeste”. Segundo ocoordenador, o Pará manteve a liderança históricaem conflitos. “O estado mais violento, onde temos capacidade deacompanhamento, é o Pará. O Pará ainda estáno cenário altamente violento por causa da luta pela terra,pela água e pelos minérios”.

Areportagem da Agência Brasil não conseguiu ouvir o governo do Pará e também não conseguiurepercutir os dados da CPT com a Secretaria Especial dos DireitosHumanos da Presidência da República. AComissão Pastoral da Terra prepara a publicaçãode um atlas sobre conflitos no campo com dados desde 1985, quandoiniciou o acompanhamento dos incidentes.