Amazônia também é gigante cultural

04/09/2009 - 8h39

Morillo Carvalho
Repórter da Rádio Nacional
Brasília - A Rádio Nacional da Amazônia completou 32 anos nessa terça-feira (1º) e amanhã (5)é o Dia da Amazônia. Para comemorar as datas, a emissora organizou asérie especial Viver na Amazônia, que está sendo exibida esta semananas duas edições do Jornal da Amazônia. A Agência Brasil reproduz asreportagens. Hoje, o assunto é a cultura da região. É evidenteque a missão de dimensionar todas as expressões culturais amazônidas emuma reportagem é tarefa impossível. Mas começamos com o carimbó, porser dança e música que nasceram na região e que representam o Brasil,como conta José Roberto Ferreira, que mantém na internet o portalBregapop, que cataloga e divulga ritmos do Pará,“O carimbó é o únicoritmo que tem influência das três culturas. O levantar de braços vem dacultura portuguesa. O andar curvado é indígena e o balançar, dosnegros”.Da mistura do carimbó com choro e jovem guarda, nasceua guitarrada. Também conhecida como lambada instrumental, o ritmocompleta 50 anos em 2010 e foi criado pelo mestre Joaquim Vieira.Elerevela como se deu o processo de criação da guitarrada, que apesar dapouca idade, já é considerada tradição no Pará e na Amazônia. “Eucomecei a misturar o mambo, a salsa, o merengue, com vários outrosritmos do Caribe e a jovem guarda, porque queria criar um ritmo nosso,nós não tínhamos. Então comecei a tocar e o pessoal pedia 'toca umalambada' [instrumental], e assim nasceu a guitarrada”, diz Vieira.Masnão é só de música que vive a cultura amazônida. Os traços da cerâmicamarajoara, desenvolvida pelos indígenas na Ilha de Marajó entre os anos400 e 1400 depois de Cristo (dC), são elementos importantes para que se possa entenderas influências da arte da região.O coordenador de Cultura doMuseu do Índio, Fábio Freitas, fala sobre o valor das peças – noespaço, há réplicas das obras, e há originais nos museusHistórico Nacional ( no Rio de Janeiro)e Americano de História Natural (em Nova York). “O grafismo, para oindígena, tem uma importância muito grande, quer seja na áreareligiosa, quer seja na área cultural. Então, além de conhecer, temosque entender esse grafismo”, defende. Outro elemento relevantena arte regional é o folclore, especialmente representado pelobumba-meu-boi. Conhecido em todo o Brasil, a expressão se destaca noMaranhão e no Amazonas. O município de Parintins (AM) vive, todos osanos, o Festival Folclórico que divide a cidade entre azuis evermelhos, cores dos bois Caprichoso e Garantido, que se apresentam nomês de junho no bumbódromo da cidade.TeloPinto, do Boi Garantido, acentua o significado do festival: “naverdade, é o Festival que impulsiona o município. Tudo o que acontecena cidade e na região, acontece em decorrência do evento. Mesmo fora doperíodo do festival, o que se investe na cidade em infraestrutura eobras, tem ele como foco. É o grande impulsor econômico do município”.   Alémda arte popular e da música, a literatura que se faz na Amazônia ganhadestaque nacional. Nomes como Milton Hatoun e Nicodemos Sena aparecemno cenário literário como grandes escritores, narrando o cotidiano daregião.Para a obra de Nicodemos, os elementos da floresta sãofundamentais. “Passei 19 anos na Amazônia, convivendo com caboclos eindígenas e convivi, desde cedo, com os problemas da região. Coisas quesó fui tomar consciência anos depois, morando em São Paulo e, a partirdaí, veio a necessidade de contribuir para despertar essa consciênciano povo da Amazônia. A forma que encontrei foi como narrador, escritor,romancista, falando sobre a região”, afirma.Estas são apenasalgumas mostras de que em todos os campos da arte, nos noveestados da região, pessoas movimentam a floresta com sons, danças,cores e palavras. Mostras de que o gigantismo da Amazônia não se dáapenas pelo seu tamanho ou pela exuberância de sua natureza, mas tambémpela riqueza de sua cultura.