Pré-sal pode acarretar risco para programas de energia alternativa, diz negociador francês

03/09/2009 - 14h43

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os megacampos de petróleo encontrados na camada pré-sal do litoralbrasileiro podem representar um risco para os programas de energiaalternativa do país. A afirmação é do embaixador especial daFrança para Negociações sobre as Mudanças Climáticas, BriceLalonde, que também já foi ministro do Meio Ambientefrancês.Lalonde disse que o Brasil precisa tomar cuidadopara não parar ou reverter os grandes avanços que o país conseguiucom políticas como o desenvolvimento do etanol ou o uso dehidrelétricas para geração de energia.“O país temcarros andando com a tecnologia flex [gasolina e álcool]e tem muita hidrelétrica. E, de repente, encontra um tesouro."Então, afirmou Lalonde, a tendência é o país sentir que poderelaxar, ser tentado a relaxar. "Eu não sei [se o Brasilrelegará programas como o etanol]. O que eu acho é que, quandovocê encontra um tesouro, isso muda sua vida, um pouco, e vocêcomeça a pensar ‘o que eu vou fazer com esse tesouro?’”,alertou o especialista francês.O secretário nacional dePlanejamento e Desenvolvimento Energético do Brasil, Altino VenturaFilho, explicou que o petróleo ainda não é substituível,principalmente como combustível de veículos, e tanto o Brasil comoo resto do mundo precisam dessa fonte de energia. Segundo osecretário, o esforço para desenvolver combustíveis alternativosao petróleo é uma questão de mercado e do preço do petróleo nocenário internacional. “Tudo vem pela chamada lei daoferta e da procura. O preço do petróleo segue essa lei. O queacontece, em termos práticos, é que as fontes alternativas quesejam competitivas como o petróleo serão desenvolvidas, como estãode fato sendo desenvolvidas. O Brasil está dando um exemplo com oetanol e com opções de geração de energia elétrica que passamlonge dos combustíveis fósseis, como a eólica e a biomassa”,destacou Ventura.O negociador francês Brice Lalonde afirmouque, apesar das preocupações que possam ser geradas com adescoberta de óleo no pré-sal e do desmatamento que ainda atinge aAmazônia, o Brasil é um exemplo para o mundo e pode agir como ummediador nas negociações sobre mudanças climáticas.“OBrasil já fez esse papel, basta lembrar que a Convenção do Climafoi assinada no Rio de Janeiro em 1992. Brasil já tem um papelimportante em negociações, com negociadores muito bons, e temenormes ativos e potencial, inclusive internamente, para vir à mesae dizer: ‘Olhem para o que nós estamos fazendo’”, ressaltouLalonde.Ele concorda com a proposta do presidente Luiz InácioLula da Silva de que representantes das principais nações se reúnamantes da Conferência Global das Nações Unidas sobre MudançasClimáticas, que ocorrerá em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca,principalmente se o encontro envolver chefes de Estado.“Issoseria muito útil, porque Copenhague tratará do futuro do planeta. Émuito, muito importante que [a conferência] engaje todas aseconomias [países]. E esse é o motivo pelo qual nósprecisamos de chefes de Estado. Somente chefes de Estado podem fecharum acordo”, disse Lalonde.