Estudo da CNI diz que falta incentivo para indústria promover uso eficiente da energia

27/08/2009 - 19h01

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O setor industrial responde por 40,7% de toda a energia consumida no Brasil, mas não há uma política governamental de longo prazo voltada para a eficiência energética. Essa é uma das conclusões do estudo realizado pela Confederãção Nacional da Indústria (CNI) e Eletrobrás, divulgado hoje (27).Com o título Eficiência Energética na Indústria: o que Foi Feito no Brasil, o estudo é tema de seminário que leva o mesmo nome e que se realiza em São Paulo. Este é o primeiro de alguns encontros em que se discutirá projetos e oportunidades para o desenvolvimento da competitividade, até o fim do ano.De acordo com o gerente-executivo da CNI, Augusto Jucá, a grande indústria tem capacidade para promover a eficiência energética, mas ainda faltam incentivos para que isso ocorra em sua plenitude. “Essa eficiência se traduz, principalmente, em preços mais baixos, competitividade no exterior e geração de renda. A indústria contribui com, aproximadamente, R$ 157 bilhões nas suas contas de energia e tem usado apenas R$ 150 milhões por ano na eficiência energética”, disse. Para ele, esse valor é muito baixo tendo em vista o papel da indústria na questão das mudanças climáticas, tema que tem relação direta com o consumo de energia. “ Não podemos mais nos ater a uma condição onde a eficiência energética não seja prioridade absoluta e uma coisa que conviva, diariamente, desde o operário da fábrica até o mais alto decisor dessa unidade industrial”. Segundo Jucá, para que as pequenas e médias empresas se conscientizem da necessidade dos investimentos em eficiência energética falta capacitação e conhecimento técnico e, para as grandes, falta ordenamento diferenciado dos investimentos. O diretor de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Humberto Moss, afirmou que o governo dá a devida prioridade para a questão da eficiência energética, mas ele alegou que o governo tem de atender a uma série de demandas simultaneamente. “Temos um modelo energético que é muito recente, o Plano Nacional de Energia 2030 e toda a retomada de planejamento foram prioridades do governo. Sem o planejamento, não há como seguir em frente e estabelecer referências”. Moss ressaltou que, no Plano Nacional de Energia 2030, há uma referência sobre a necessidade de se fazer um plano nacional de eficiência energética, projeto no qual o governo já está trabalhando. “Só que é algo extremamente complexo porque nunca foi feito antes. Quando se tenta quantificar isso, fala-se de milhares de situações diferentes, é um universo muito amplo”. O diretor enfatizou que todos os projetos nesse sentido estão sendo feitos em conjunto com a iniciativa privada, o que valida ainda mais a iniciativa. “Estamos fazendo isso sempre com o objetivo de que os setores se interajam porque a questão não é colocar no papel e, sim, tirar do papel”.Maria Cecília Amaral, diretora-executiva da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) - entidade que congrega empresas que planejam, elaboram, e executam projetos de redução de consumo de energia - avaliou que o investimento de 0,09% do faturamento da indústria, que foi voltado para a eficiência energética nos últimos 10 anos, como indica o estudo, é muito baixo. “Se a economia está em uma época de demanda aquecida, o industrial prefere investir no aumento de produção ao invés de investir na sua competitividade. O que acontece é que o industrial não enxerga a energia como insumo estratégico. Ainda é um percentual muito baixo dos industriais que enxergam na energia esse aspecto”, afirmou a gestora.Ela disse que, mais cedo ou mais tarde, essa questão se imporá por meio da necessidade do industrial de gerar energia, ou por segurança ou por custos altos. Maria Cecília destacou a prioridade que o tema da eficiência energética tem em outros países. “Se avaliarmos outros países onde o mercado de eficiência energética é maduro, ele sempre começou do público para o privado. E, aqui no Brasil, está sempre na contramão, com o privado iniciando e iniciativas como essa da CNI é que vão acabar pressionando o governo para elaborar um plano nacional de eficiência energética realmente efetivo, com metas e com ações concretas para uma redução significativa.”