Uma opção politicamente errada que pode se transformar num sucesso urbanístico

24/08/2009 - 11h33

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Oplano piloto de Lúcio Costa feito no final dos anos 60 para a Barra daTijuca partia do pressuposto de que para lá cresceria o Rio Janeiro, esgotadas as opções no centro e na zona norte, e lá seria o seu novo centro comercial e cultural. Acidade vivia, desde o começo da década, progressivo esvaziamentopolítico-administrativo resultante da transferência da capital federalpara Brasília, e o primeiro governador do novo estado da Guanabara,Carlos Lacerda, abria o Aterro do Flamengo, extinguia os bondes ederrubava o Tabuleiro da Baiana, criando o novo desenho do Rio pós-JK.Nessecenário, foi encomendado o plano piloto de Lúcio Costa para a ocupaçãoda zona oeste, ou melhor, do litoral daquela região, porqueJacarepaguá, Campo Grande, Realengo e outros bairros já existiam pelomenos desde o início do século. Muitos arquitetos veem na ocupação daBarra da Tijuca o começo da decadência do centro e da zona norte do Riode Janeiro, sobretudo a partir do “milagre brasileiro” da virada dos anos 70.“Aideia de levar o centro para a Barra me faz lembrar o modelo dedesenvolvimento brasileiro, predador, sempre privilegiando espaçosdesocupados”, diz a socióloga, historiadora e vereadora carioca AspásiaCamargo, para quem, mesmo levando-se em conta a tese desses arquitetos,é preciso lembrar que o centro da cidade e a zona norte estavamabandonados havia muito tempo:“A zona norte foi consolidada porHermes da Fonseca [presidente da República entre 1910 e 1914], queconstruiu as casas, a estrada de ferro, a Vila Militar. Tudo naRepública Velha, antes do Getúlio”, ensina a historiadora, na defesa doargumento de que o movimento urbanístico para a Barra da Tijuca, detoda maneira, era inevitável.A estranheza de Aspásia Camargo noprocesso é a falta de planejamento que marcou a povoação da Barra daTijuca desde o começo, uma contradição dentro do regime militar e seusplanos de desenvolvimento setoriais e globais, anuais e plurianuais.“Aliás,os militares da ditadura não seguiram o exemplo do marechal Hermes,senão a Barra seria outra. Você vê que lá não tem nem transporteurbano, os condomínios verticais criaram um ‘neocomunitarismo’ sem oqual seria o caos. Além das áreas comuns de convivência, eles têm atéônibus próprios para transportar seus moradores ao trabalho”, diz.   Apesardo “deficit ambiental gigantesco” da Barra da Tijuca, a vereadoraconfessa amar o bairro “como tudo o mais na cidade”, e destaca ocompromisso com a estética humana como a principal no bairro. Lá estãoo mar, a praia de 18 quilômetros, os atrativos naturais necessários à satisfação das pessoas em qualquer ramo de atividade humana.