Diplomata chinês afirma que economia de mercado melhorou política social em seu país

24/08/2009 - 19h08

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil quer ampliar a agenda de discussão com seu maior parceirocomercial: a China. O Centro Internacional de Políticas para oCrescimento Inclusivo, ligado ao Programa das Nações Unidas parao Desenvolvimento (Pnud) e à Secretaria de Assuntos Estratégicos, estárecebendo uma missão chinesa para trocar experiências em políticassociais – o tema foi debatido em um seminário internacional sobre proteçãosocial nos dois países, na sede do Instituto de PesquisaEconômica Aplicada ( Ipea), em Brasília.Segundo o diretor de Estudos Sociais do Ipea, Jorge Abrahão deCastro, os chineses têm interesse em conhecer programasbrasileiros de transferência de renda, como o Bolsa Família e aPrevidência Social, e o Brasil pode aprender com a China como fazerinvestimentos em infraestrutura social, nas áreas de saneamento e habitação. “Éimportante observar como política social avança comparando com outras”,disse Castro, à saída do seminário.O ministro-conselheiro Zhu Qingqiao, encarregado de negócios da Embaixada da China, lembrou que o Brasil e a China passaram por rápidos processos deindustrialização e urbanização. “Saber como a população podedesfrutar do desenvolvimento econômico é um desafio para ambos. Aomesmo tempo que cresce a economia, tem que haver proteção social”, defendeu o diplomata. Na China, a pobrezaafeta principalmente a população residente em regiões montanhosas,distantes e de difícil acesso, disse ele.Em entrevista à AgênciaBrasil, Zhu Qingqiao afirmou que a economia de mercado, adotada sob o regime comunista a partirde 1978, melhorou a qualidade de vida dos chineses. “Para melhorar avida da população, é preciso ter crescimentoeconômico. Sem crescimento econômico, como é que o governo tem recursospara resolver os problemas?”, perguntou. Conforme o diplomata, nos últimos 30 anos, o número de chineses em situação depobreza absoluta caiu de 250 milhões para cerca de 15 milhões. AChina está atrás do Brasil no ranking do Índice de DesenvolvimentoHumano (IDH). O Brasil está na 70ª posição e a China, na 94ª. Os números apresentados pelos chineses no seminário, no entanto, deixaramdúvida sobre os resultados da política social naquele país. De acordocom o critério de US$ 1 por dia (usado pelo Banco Mundial para delimitara linha de pobreza), há 100 milhões de pobres na China, e não 15 milhões. “Elesapontam que houve uma redução significativa da pobreza com parâmetrosdefinidos pelo país. Quando colocam parâmetros internacionais, onúmero de pobres é muito maior. A pergunta é: que parâmetros devemosusar. A resposta não é necessariamente que os parâmetros internacionaissão os mais adequados. A diferença de 15 milhões para 100 milhões ébastante grande e significativa e deve ser melhor avaliada”, afirmou a economista Maristela Baioni, representante assistente do Pnud noBrasil.Para Maristela Baioni, no caso brasileiro, há uma forterelação entre democracia, desenvolvimento e proteção social. “Se nãotiver participação da sociedade envolvida e mecanismos de controlesocial, a provisão de serviços pode ficar bastante comprometida, ou debaixa qualidade ou até restrita, não respondendo às demandas dapopulação.”Jorge Abrahão também assinalou aimportância da democracia para a proteção social no Brasil: “Aconstrução da política social brasileira é fruto da democracia. O aprofundamento [da democracia], nos anos1990 e 2000, principalmente, tem a ver com aampliação da participação do movimento social, da proteção que foifeita aos seus ganhos. Democracia é central”, afirmou.