Para promotor, excesso de tolerância explica falta de punição a dirigentes esportivos

22/08/2009 - 11h34

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Mesmo sendo apontados como os grandes responsáveis pelos vários problemas que enfrentam os clubes brasileiros de futebol, os dirigentes quase nunca são responsabilizados pelos erros porque existe excessiva tolerância da sociedade brasileira, que se manifesta também diante dos problemas do Senado Federal, por exemplo. A opinião é do promotor de Justiça do Rio de Janeiro Rodrigo Terra.“Há uma cultura da leniência. Por que que o presidente do Senado não é destituído com tantas revelações comprometedoras? Ao mesmo tempo, além dessa cultura tão nociva para o desenvolvimento da sociedade, ainda existem os interesses pessoais. O futebol envolve muitos favores. O dirigente oferece ingressos e facilidades para desembargadores, leva desembargadores para assistirem à Copa do Mundo de graça. Enfim, são motivos extralegais. São questões muito culturais. E é muito difícil se mudar uma cultura”, disse o promotor, em entrevista à Agência Brasil.Quem também manifesta esse ponto de vista é o jornalista esportivo Juca Kfouri. Defensor da ideia de que os clubes brasileiros precisam deixar o amadorismo de lado e se tornar empresas, Juca Kfouri afirma que o pontapé inicial para que isso ocorra no futebol nacional será dado “pelas mesmas pessoas que devem moralizar o Senado Federal”.“Não se entenderá o futebol brasileiro se você não entender a vida nacional. O futebol brasileiro é apenas uma face da mesma moeda”, afirmou.Segundo Kfouri, a gestão dos clubes brasileiros é hoje um retrato do “enriquecimento ilícito da cartolagem do futebol”. Na venda de ingressos, por exemplo, isso se manifestaria nos acordos entre os dirigentes, os cambistas e as empresas responsáveis pela venda dos ingressos.“Há cumplicidade entre quem vende e quem promove o espetáculo e esses cambistas. São as mesmas pessoas. É um grande esquema que frauda o cofre do clube e que beneficia o bolso do cartola”, disse.De acordo com o promotor Rodrigo Terra, as punições para os dirigentes estão previstas no Estatuto do Torcedor, mas dificilmente são cumpridas. “Se o ingresso é oferecido com menos de 72 horas de antecedência ou só em três pontos de venda [o mínimo exigido é de cinco pontos de venda], ele [dirigente] poderia ser destituído pela Justiça. Mas essa penalidade, com seis anos de vigência do Estatuto do Torcedor, jamais foi aplicada em todo o Brasil. E motivos não faltaram para que algum dos dirigentes viessem a ser punidos”.