Emoção marca evento de 30 anos da Lei da Anistia no país

22/08/2009 - 18h52

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Aemoção marcou o encontro que comemorou os 30 anos deanistia no Brasil. O ato público realizado hoje (22) noArquivo Nacional, no Centro do Rio, durou cerca de cinco horas ereuniu aproximadamente 300 pessoas que de alguma forma estiveramenvolvidas com o processo de redemocratização do país.O evento promoveu o reencontro de ex-presos políticos queestavam encarcerados em 22 de agosto de 1979, quando foi criada a Leide Anistia. Dentre os homenageados, estavam militantes que realizaramuma greve de fome nacional para forçar o Congresso aaprovar uma lei de anistia ampla, geral e irrestrita.Gilney Amorim Viana eraestudante de medicina em Minas Gerais e foi expulso da faculdade em1969 por ser militante do Partido Comunista Brasileiro. Ele ficouquase dez anos preso e participou da greve de fome, no presídioda Frei Caneca, no Rio. “A greve de fome serviu para denunciar queo projeto de anistia original era parcial e nos excluía, alémde ser uma forma de negar a legitimidade da nossa luta contra aditadura militar.”Para Gilney, a aberturados arquivos é outro ponto fundamental para a verdadeiraconciliação democrática. “O povo precisaentender esse período histórico e os fatos aindaobscuros devem ser esclarecidos. Não estamos pedindo aabertura de documentos de lei de segurança. Queremos aabertura dos arquivos referentes à repressão política”.Segundo ele, o governoainda não possibilitou o acesso total aos documentos oficiaisda ditadura por sofrer chantagens e pressões por parte dealguns militares que cometeram crimes e ainda exercem influênciaem alguns setores do governo. O ministro da Justiça,Tarso Genro, participou do evento e enfatizou que anistia nãoé perdão, mas um pedido de desculpas aqueles quetiveram seus direitos violados pelo regime militar. “Anistia nãoé esquecimento, é a revelação da verdadeda história e promoção da justiça.”Ele defendeu essas reivindicações por parte dos ex-militantes e disse que oprocesso de anistia é complexo, mas que deve ocorrer por meio depressões, negociações e sucessivas e modificações legais. Visivelmenteemocionado, Tarso Genro foi aplaudido de pé, ao serhomenageado pela advogada Eny Moreira, uma das fundadoras do ComitêBrasileiro para a Anistia, criado em 2008. “Como dizia meu pai,honradez não se pede nem se agradece, se aplaude,” disse elaao ministro.A ex-gerrilheiraMarília Guimarães entrou para a clandestinidade, comdois filhos ainda bebês, em 1969. Ela escreveu um dos livrosexpostos no evento, que relata o sequestro de um avião em queela participou para fugir da ditadura. “Muitos morreram, mas todosque estão aqui continuam lutando. Este é um momento demuita emoção, pois passados mais de 30 anos, estahomenagem ajuda manter viva a memória desse período e aimpulsionar a juventude a seguir lutando por um mundo melhor.”Durante a solenidade,foi inaugurada uma exposição de fotos sobre a luta pelaanistia e lançada a Revista da Anistia Política eJustiça de Transição. A Lei de Anistiabeneficiou milhares de pessoas perseguidas pelo regime militar,permitindo a volta dos exilados e a liberdade dos presos políticos.O advogado Modesto daSilveira, que defendeu milhares de presos políticos durantetodo o período de repressão, foi um dos homenageados noencontro e se disse muito emocionado com as exposiçõesde alguns participantes. “Em cada relato, vieram flashes dehistórias semelhantes a vários casos que eu tive dedefender.”Ele acredita também que algunsdocumentos comprometem torturadores, assassinos e estupradores aindavivos e implantados no meio do poder. “Não duvido que muitoscontinuem a exercer chantagens e ameaças. E se eles foramcapazes de matar pessoas naquela época, certamente sãocapazes de continuar matando.”“Isso já estáocorrendo em países vizinhos, como na Argentina e no Chile.Acredito que este é um caminho sem volta, que num futuropróximo a sociedade terá acesso a todos os documentosoficiais do governo e os torturadores serão responsabilizadospor seus crimes.”