Atuação do Estado na Cracolândia se resume a ação policial, afirmam associações

22/08/2009 - 16h22

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O trabalho da Ação Integrada Centro Legal, grupo que integra mais de 20 órgãosda prefeitura e do estado de São Paulo para recuperar aCracolândia paulistana, foi pouco além das operaçõespoliciais. É o que contestam as associaçõesde comerciantes e moradores de bairros do centro ouvidas pela AgênciaBrasil.

Aproposta da Centro Legal era organizar açõespoliciais em conjunto com atividades de assistência social e desaúde para recuperar as ruas tomadas pelo consumo e comérciode crack.

Noentanto, segundo o vice-presidente da Associação dosMoradores e Comerciantes do Bairro de Campos Elíseos (AMCCE),Nelson Barbosa, as constantes abordagens realizadas pela políciae pelos agentes de saúde estão fragmentando os gruposde usuários e espalhando o problema pela área centralda cidade. “Na verdade o que aconteceu é o que jávinha acontecendo mesmo. Se antes estava em grupo maior, agora elesestão ocupando outras ruas em grupo talvez até um poucomenores.”

Eleclassifica a ação de “policialesca” e afirma quenão existe um projeto de recuperação das pessoasem situação de rua. “Não vejo e continuo semsaber de nenhum projeto da área de assistência socialpara acolhimento, encaminhamento e porta de saída para essaspessoas em situação de rua.”

Osagentes de saúde que percorrem a região abordando osviciados são, de acordo com Barbosa, a única medidaalém do policiamento ostensivo. “Dá a impressãoque existe uma maquiagem na história”.

Odiretor da Associação dos Comerciantes do bairro daSanta Ifigênia (ACSI), Paulo Garcia, tem certeza de que aoperação tenta disfarçar os problemas do centrode São Paulo. “Eu vejo maquiagem”, afirmou. Garciaconta que as ações realmente melhoraram a situaçãodo bairro: “as ruas estão melhores, mais limpas”. Porém,com base em experiências anteriores, ele desconfia que seja umasituação passageira. “Vejouma melhora muito acentuada de umas semanas para cá. Mas, já assisti a esse filme em outras ocasiões esei que na sequência vai voltar tudo como era antes.”

Uma açãoque buscasse atender cada viciado individualmente.“Quandovocê fala Cracolândia ou usuário de crack, vocêestá falando de uma multidão. Tem que começar afalar de Paulo, de Pedro de Miguel, e correr atrás daquelenome e não da questão como fosse se resolver com umapassada de camburão”, afirmou.

Opsicólogo da organização nãogovernamental É de Lei Tiago Calil tambémdefende uma abordagem mais gradual e humanizada. “Eles [prefeiturae estado] querem mudar [a realidade daqui] de um hora para outra, acho que teria queser um processo mais gradual de fazer contato com essas pessoas e irconversando, vendo as possibilidades”, considerou.

ParaCalil, que trabalha com redução de danos naCracolândia, a pressa para que os viciados se reabilitem atempo da recuperação urbanística do bairro nãopermite uma ação individualizada. “Eu não vejocomo um cuidado com as pessoas que estão ali, é maisuma operação para limpar mesmo.”