Encontro discute poder de decisão e participação de mulheres negras na sociedade

15/08/2009 - 16h28

Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depoimentos de experiências em busca da superação do preconceito e da discriminação racial marcaram hoje (15) o último dia do I Seminário Nacional de Empoderamento dasMulheres Negras. O encontro reúne 120 mulheres desde a quinta-feira (13). Empoderamento éa tradução da palavra inglesa empowerment, que significa dar poderes de decisão, participação e autonomia auma pessoa, dentro de uma empresa por exemplo. Segundo a gerente de projetos da Subsecretaria de AçõesAfirmativas da Secretária Especial de Política de Promoção deIgualdade Racial da Presidência da República, Valéria de Oliveira, o encontro buscoureunir diferentes “atores sociais” que organizam mulheres negras,como partidos e outras entidades da sociedade civil para discutir osmecanismo de “empoderamento” desse segmento social.“Comoa gente sabe [a diferença], reflete duramente a desigualdade do país.Se você pegar todos os dados relativos à educação, saúde eoportunidade de trabalho vê que os negros estão na parte inferiorda pirâmide e as mulheres são mais discriminadas e mais afetadaspor essa desigualdade”, disse. Noencontro, foram apresentadas diversas experiências. Uma delas, a da reitora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia Aurina Oliveira Santana. Em2001, apósser escolhida pela comunidade acadêmica, em primeiro lugar em uma lista tríplice, para dirigir o Centro Federal de EducaçãoTecnológica da Bahia (Cefet-BA), Aurina foi preterida por outro nome. A decisão provocou uma série de protestos e aparalisação das aulas. A questão só foi resolvida com a renúnciado professor, considerado imposto na época e a escolha de um diretorprotempore.Outraexperiência apresentada no encontro foi a da vereadora quilombola doPartido dos Trabalhadores , Maria Rosalina Santos, de Queimada Nova(PI). Rosalinaéconsiderada pelo portal Observatório Quilombola com um dosexpoentes na luta pela regularização fundiária e serviços básicosnas áreas de saúde, educação, trabalho e renda das comunidadesremanescentes de quilombos. “Alémde muito emocionante, o depoimento dessas pessoas possibilitoutambém o retrato de diversas experiências que revelaramdificuldades, mas também experiências exitosas”, disse ValériaOliveira. Atéo final do encontro, hoje à noite, serão tiradas propostas entre osgrupos participantes do evento para serem encaminhadas aos órgãos públicos ligados à temática e como forma de subsídiopara as políticas públicas voltadas para esse segmento. Valéria admite um certo avanço, atualmente no Brasil, em relação aorespeito às mulheres negras, mas alerta que o espaço para aigualdade é muito grande. “Sem dúvidas temos avançado, mas comose trata de uma desigualdade secular fruto da abolição inacabada,nós temos ainda muito que avançar”, disse. Ela citou, ainda, a experiência de Creusa MariaOliveira, considerada por Valéria emblemática. Presidente da Federaçãodas Trabalhadores Domésticas, Creusa é autora de uma conquista vistacomo coletiva, e não individual, já que a dirigente está à frentede uma categoria que é composta por quase 99% por mulheres negras. “Éuma categoria completamente alijada dos direitos que as outrascategorias profissionais possuem. Mas já foi recebida pelopresidente da República e disso derivou uma diretriz para que aspolíticas públicas atendessem esse segmento. No CongressoNacional, atualmente tramita um Proposta de Emenda Constitucionalrelativa aos direitos trabalhistas dessa categoria. “Então,é fruto de muita luta, de muita organização e muita dificuldade,mas já com avanços significativos”.