Quem respira o ar das grandes cidades está sujeito às doenças de quem fuma, diz estudo

14/08/2009 - 19h26

Ivy Farias
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Poluição, no dicionárioAurélio, é o "ato ou efeito de poluir".Porém, o mesmo substantivo feminino tem outras definiçõesque vão muito além das citadas pelo dicionário,quando a situação está relacionada com a poluiçãonos grandes centros urbanos, e a maior vítima é a população.Uma experiência realizada com 228 pessoas quefrequentemente passam pelo vão livre do Museu de Arte Moderna(Masp), em São Paulo, 4% delas apresentaram um índicede comprometimento pulmonar semelhante ao de um tabagista, segundoestudo realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e divulgadohoje (14). O professor e coordenador do Laboratório dePoluição Ambiental da faculdade de medicina daUniversidade de São Paulo (USP), Paulo Hilário Saldiva,disse que uma experiência que fez para medir a poluiçãoem sua sala na faculdade de Medicina durante 24 horas, constatouque o volume de partículas poluentes absorvido pelos pulmões é semelhante ao de dois cigarros. "Mesmo sem querer, eu fumo dois cigarros pordia. A poluição faz todo mundo fumar, inclusive aquelesque não podem, como as gestantes e os asmáticos",explicou. "E alguns fumam mais, como motoristas de ônibuse fiscais de trânsito, que ficam mais expostos àpoluição". O estudo mostrou ainda que 70% daspessoas da amostra apresentaram de 1 a 6 partespor milhão de monóxido de carbono. O professor informou ainda que o índice depoluição máximo recomendado pela OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS) é de 25 miligrama (mg) por metrocúbico (m3). "No corredor de ônibus daAvenida Nove de Julho (na capital paulista), este índice podechegar a 140 mg por m3, é um verdadeiro laboratóriode intoxicação humana", afirmou.De acordo com Saldiva, os estudos realizados nosistema de saúde comprovam os danos da poluição.Segundo ele, a cada 100 crianças internadas com problemasrespiratórios como bronquite e pneumonia, por exemplo, 16 sãoem decorrência da poluição. "Em cada dezcasos de infarto, um é por causa da poluição. Ea cada 100 casos de câncer de pulmão, oito sãoconsequência da poluição", disse.O professor explicou ainda que as pessoas quevivem nas grandes cidades são as mais prejudicadas pelapoluição do que as de cidades pequenas. E destas, aparte mais pobre são as que sofrem mais. "Eles nãoficam mais protegidos da poluição em carros comar-condicionado. Muito pelo contrário, enquanto esperam oônibus estão cada vez mais expostos. Isso é o quechamo de desigualdade ambiental", afirmou.O professor ressaltou que não há tratamento para o ar como existe para água, eque várias atitudes podem melhorar a saúde dapopulação, como o de investir em transporte público ereduzir os índices de poluição causada porveículos automotores. "Além de adotar um dieselmenos poluente, como o S10 (menos teor de enxofre), podemos usar osmotores com diesel com catalisador", explicou.Para o presidente da Sociedade Brasileira deCardiologia, Antonio Carlos Palandri Chagas, a poluiçãoafeta primordialmente os sistemas cardiovasculares e respiratórios."Primeiro ela altera a capacidade respiratória e,consequentemente, a circulação. À medida que acirculação vai se alterando, prejudica a capacidade docoração de bombear o sangue, desencadeando uma sériede problemas", disse.