A opinião fotográfica

14/08/2009 - 8h40

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - Uma fotoeterniza uma imagem mesmo que esta não corresponda à verdadeabsoluta, mas a uma verdade fabricada, aquela que se quer passaradiante. A imagem retratada, ao mesmo tempo em que apreende o real,reflete o ponto de vista de seu autor e por isso o caráter subjetivoda fotografia não pode ser desprezado. Todavia, quando se trata deuma agência pública de notícias, a função da fotografia éinformar de maneira objetiva ao leitor que, da mesma forma que temdireito à informação precisa e honesta no texto que lê, não deveser induzido a nenhum tipo de conclusão por meio das imagens que vê.Uma agência pública não faz jornalismo com a opinião de seusprofissionais. A impessoalidade é um critério e um princípio doserviço público e, portanto, da comunicação pública.

O leitor Halley Polastrini escreveu: “Adoroo jeito imparcial com que são apresentadas as reportagens da AgênciaBrasil. Contudo, não é de hoje reparo que as fotos veiculadas nestesite têm seu caráter subliminar, para não dizer caricato. Provadisso é o click certeiro no senador Álvaro Dias ao mesmo tempo emque ele passa por quadro com a gravura de um tucano. A impressão quedá é a do senador com um bico de tucano. Não sei se foi umabrincadeira ou uma extrema coincidência. Mas é como eu disse, nãoé a primeira vez que testemunho este tipo de 'linguagem'. Acho que acredibilidade a Agência dispensa o emprego desta técnica.”,referindo-se à foto(*) publicada dia 28 de julho. A AgênciaBrasil respondeu:“Agradecemos o comentáriodo leitor.

Um outroexemplo deste tipo de foto havia sido publicado(**) em 25 defevereiro no qual mostrava o presidente do STF, ministro GilmarMendes coroado por uma auréola luminosa.


Trêsdias antes, o ministro havia protagonizado um bate-boca com seucolega, ministro Joaquim Barbosa, que o criticou, responsabilizando-opor supostamente contribuir para uma imagem negativa do PoderJudiciário perante a população. Qual a relação entre o fato e afoto?

A fotofaz um registro histórico do momento, um instante que não poderáser reproduzido, levando-se em consideração a época, os costumes eas tradições que ficam eternizados no instante fotografado. Daídecorre seu valor como representação de uma realidade. Muitosdirão, a respeito das fotos a que nos referimos, que o fotógrafoapenas soube aproveitar a oportunidade que o momento proporcionouregistrando a imagem com a perspicácia do olhar fotográfico quelhe é próprio da profissão. Tal opinião seria válida se aAgência Brasilfosse apenas um sitefotográfico que privilegiasse a fotografia enquanto linguagemartística, independentemente do compromisso com a informação.

Outroleitor, Beto Paschoalini, também reclamou desse tipo de foto. Nodia cinco de agosto ele escreveu: “A Agência não é feita para fazer propaganda do Governo, certo? Nema favor, nem contra. Considero ultrajante a foto escolhida epublicada para ilustrar a visita do assessor e conselheiro deSegurança Nacional dos Estados Unidos, general James Jones, aoministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. A escolha tem onítido propósito editorial de diminuir o ministro brasileiro diantedo representante americano, o que definitivamente não deveria sercritério de uma agência brasileira. O nanismo, no caso infelizmenterestrito às entrelinhas, está na postura do responsável pelaedição.”, sobre afoto(***). A Agência Brasilrespondeu; “A observaçãodo leitor é pertinente e será tratado pelo corpo editoral daAgência.


Sãopelo menos três casos, dos quais, dois deles, percebidos pelosleitores. Para o professor de fotografia Enio Leite(****): “ Afotografia, de fato, não representa apenas o resultado de um simples'clique'. A subjetividade que lhe é própria pode mentir, provocar,chocar, gerar cumplicidade, evocar sensações sensuais ou de dor,movimento, odor, som, etc. Proporciona prazer estético, e, também,manipular a opinião pública em favor dos interesses do próprioautor”.

Nofotojornalismo a função da fotografia é documentar com imagens asinformações contidas no texto da notícia. O repórter fotográficonão se aprofunda em considerações estéticas, pois seu objetivo écomunicar e transmitir mensagens informativas de interesse do leitor.Esses profissionais devem antes de tudo pensar em seus leitores, seusdestinatários. O assunto definido pela pauta é o objeto e afotografia o transmite. O seu trabalho não se destina a gerarinfluências e a fotografia não pode ultrapassar o real fotografadocom mensagens subliminares.

Oimpacto de uma situação inusitada, eventualmente, pode ser umelemento fundamental desde que a fotografia contemple o objetivo deinformar. Nas fotos citadas, percebe-se que esse objetivo se tornousecundário ressaltando aos olhos dos leitores um contexto que vaialém, transpassa o fato e o interpreta sob critérios subjetivos eaté mesmo ideológicos.

Emuma agência de notícias como ABr,são os editores que decidem o que é publicado, que informaçãodeve ser destacada, quais fotografias irão para a primeira página equais restarão no banco de imagens ou serão descartadas. Se orepórter extrapolou o assunto pautado, a edição tem a função decoibir eventuais abusos e não publicar as fotos. Nos casos citados,a edição não cumpriu esse papel conforme salientou o leitor BetoPaschoalini.

Atéa próxima semana.

(*)disponível em:http://stream.agenciabrasil.gov.br/media/imagens/2009/07/28/1500RP3406.image_media_horizontal.jpg(**)disponível em:http://www.agenciabrasil.gov.br/media/imagens/2009/02/25/1735JC2549.jpg/view(***)disponível em: http://www.agenciabrasil.gov.br/media/imagens/2009/08/05/1100MCA7048.jpg/view(****)disponível em: www.focusfoto.com.br