Zelaya agradece apoio brasileiro e pede mais firmeza da comunidade internacional

12/08/2009 - 21h36

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Opresidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, veio ao Brasil paraagradecer o apoio do país e pedir posições mais firmes dacomunidade internacional contra o golpe que o destituiu do poder em28 de junho. “A posição do Brasil foi muito firme. O Brasilcondenou o golpe, não reconheceu suas autoridades e ainda pediu umarestituição de seu servidor sem condições, imediata”, frisouZelaya, após encontro de pouco mais de uma hora com o presidente LuizInácio Lula da Silva. Zelaya,que já esteve no México, segue amanhã (13) para o Chile e, napróxima semana, deverá se encontrar com a secretária de Estado dosEstados Unidos, Hillary Clinton. Segundo ele, o objetivo dasvisitas é traçar estratégias para evitar novos golpes na AméricaLatina. “O que pedi ao presidente Lula e ao presidente Calderón[Felipe Calderón, do México], e amanhã, estarei com apresidente Bachelet [Michelle Bachelet, do Chile] , é quetodos em conjunto – Estados Unidos e América Latina – deem umexemplo à humanidade: não voltem a esse estado de violência emnossos países porque é retroceder, é perder um direito. Para ele, é preciso lutar pela democracia e por reformas sociais permanentes. "O retornode golpes de Estado deve ser condenado pela sociedade civil e pelosmandatários”, afirmou o político hondurenho. Entre as ações que espera, no âmbito multilateral, Zelaya destacou que espera umaresolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) pelo nãoreconhecimento de eleições que venham a ser convocadas pelogoverno atual, liderado pelo ex-chefe do Legislativo RobertoMicheletti. “Esta é uma posição muito firme que já tomou aUnasul [União das Nações Sul-Americanas], e hoje opresidente Lula ratificou que sua posição segue firme nesseconceito. Eleições surgidas de um Estado ilegal não serão aceitaspelo Brasil", disse Zelaya. Eleinformou que governo brasileiro decidiu congelar projetos dehidrelétricas e estradas em Honduras enquanto o atual governoestiver no poder. DosEstados Unidos, Zelaya espera ações mais enérgicas:“Honduras está submetida a uma ditadura. Os Estados Unidos têmque tomar medidas mais firmes para reverter esse processo de golpede Estado, porque 70% da economia do país dependem dos EstadosUnidos”, ressaltou, sugerindo a adoção de retaliaçõescomerciais por parte do governo de Barack Obama. Começamos com medidasdiplomáticas, como a retirada de embaixadores, o congelamento decontas. Agora vão ser estabelecidas políticas com respeito àseleições. Depois virão medidas comerciais. Esperamos não ter queapelar para outro tipo de medidas. Acreditamos que é o suficientepara que aqueles que tenham um mínimo de razão e de sensibilidadesocial possam sentir que esse golpe de Estado foi repudiado pelahumanidade inteira, por todos os governos, e que o povo hondurenhotampouco o aceita”, afirmou Zelaya. Eledisse aos jornalistas que não acredita no envolvimento do governoamericano no golpe em Honduras, lembrando que os Estados Unidosapoiaram a condenação da ação militar no país pela Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) e pela OEA.. “Os Estados Unidospatrocinaram a condenação das Nações Unidas, patrocinaram acondenação da OEA. Não acredito que, nesse caso, a administraçãode Obama tenha uma dupla moral." Noentanto, ressaltou Zelaya, parece haver nos Estados Unidos forçasinternas de extrema direita que têm dupla moral. “Vi declaraçõesde senadores e de congressistas que falam de democracia nos EstadosUnidos, mas quiseram impor golpes de Estado e ditaduras na AméricaLatina.”, afirmou. Zelaya destacou que o plano de paz mediado pelopresidente da Costa Rica, Oscar Arias, foi uma iniciativa de HillaryClinton. Lembrando que os Estados Unidos estão comprometidos com oPlano Arias, o líder hondurenho disse que o presidente Obama nãovai perder seu prestígio, permitindo que os golpistas recusem o queeles propuseram como uma solução para o golpe de Estado. O presidente deposto contou detalhes da noite de 28 de junho, quandofoi retirado de sua casa de madrugada, por cerca de 150 militares, eexpulso do país. “Assaltaram minha residência a balaços. Fuipraticamente sequestrado de forma violenta, com roupas de dormir,apontaram-me armas”, relatou, frisando que Honduras estavadesenvolvendo um processo de pesquisa de opinião pública, não umreferendo, nem um plebiscito. Ele foi deposto horas antes de o paísiniciar uma consulta sobre a possibilidade de incluir, nas eleiçõesgerais de 29 de novembro, plebiscito sobre a instalação de uma assembleia constituinte para reformar a Constituição. A consultapública foi considerada inconstitucional pelo Parlamento e pelaSuprema Corte de Honduras e as Forças Armadas se recusaram a darapoio logístico à operação. “Nestemomento, há uma grande repressão contra o povo, foi instalada umaditadura, não foi apenas um golpe de Estado. O presidente doCongresso, de forma ilegal, com um golpe militar, assumiu aPresidência da República e elegeu a Corte de Justiça”, denunciouZelaya. “Há apenas um poder, é um poder militar sustentado pelosrifles e pelas armas, há violações dos direitos humanos, muitaspessoas assassinadas, mais de mil presos políticos." Eleafirmou que há torturas, censura à imprensa e um estado dearbitrariedade em Honduras que se acreditava ser coisa do passado."Agora, com vergonha, vemos que volta a surgir a violência comoum método de resolver problemas que se poderia resolver através dodiálogo, da política e através das urnas, da democracia e daseleições.”Zelayaressaltou que não desistirá de retornar a seu país. “Ninguémpode me separar da minha família, ninguém pode me tirar o mandatoque o povo me deu nas urnas voluntariamente, fazer isso é umaruptura do pacto social. Eu seguirei lutando indefinidamente, não hátempo determinado, mas, sim, convicção de que somente o meu retornoa Honduras garante a paz ao sistema eleitoral e ao sistema políticodo país”, concluiu. Depois do encontro com Lula, Zelaya seguiu para o Congresso Nacional,onde se encontraria com representantes da Comissão de RelaçõesExteriores do Senado. Ele viaja para Santiago amanhã (13) de manhã.