Desempenho do mercado de trabalho no primeiro semestre surpreende, mas massa salarial encolhe

12/08/2009 - 15h16

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Embora o desempenho do mercado de trabalho no primeiro semestre desteano tenha ficado acima das expectativas do início da crise financeirainternacional, com melhora, ainda que lenta, nas taxas de desemprego ede informalidade, os rendimentos dos trabalhadores encolheram noperíodo. Entre os meses de janeiro e maio, houvequedas contínuas na massa salarial, que acumulou perda deaproximadamente 3%. Apesar do nível dos rendimentos no primeirosemestre de 2009 permanecer 4,2% acima do apurado no mesmo período de2008, a margem de diferença vem caindo, tendo passado de 5,9% em janeiro para 3% em junho. Aconstatação é do Boletim de Mercado de Trabalho, divulgado hoje(12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Nos últimos anos", diz o boletim, "não há registro de queda do rendimento quetenha persistido por tanto tempo”. De acordo com o pesquisadorLauro Ramos, editor do boletim, que é publicado trimestralmente pelo Ipea, o movimento se dá de maneiramais expressiva entre a população com níveis de escolaridade maiselevados. Aqueles que concluíram pelo menos o ensino médio tiveram seusrendimentos encolhidos em 3,9%. Essa parcela de trabalhadoresrepresenta o grupo com maior participação na população ocupada (57%).SegundoRamos dois fatores podem explicar esse comportamento: “O primeiro é queas pessoas com menor escolaridade, independentemente da crise, já vinhamperdendo ao longo dos anos espaço no mercado de trabalho. Na hora dacrise, como consequência natural, o ajuste é feito em quem vem ganhandoespaço, ou seja, aqueles com mais escolaridade."O outrofator é que pode estar ocorrendo um processo de rotatividade nasempresas, acrescentou Ramos. "Algumas pessoas que ocupam há mais tempo seus postos detrabalho ou que têm salários melhores podem estar sendo dispensadaspara dar lugar a outros trabalhadores com salários menores.” Lauro Ramos considera a preocupante na medida em que os dadossugerem um possível desaquecimento do consumo das famílias. De acordocom o pesquisador, isso poderia dificultar uma recuperação da economia e domercado de trabalho, que vai depender davelocidade da retomada dos investimentos.“Em boa medida, oimpacto da crise não foi tão forte no Brasil no primeiro semestre,porque o consumo das famílias serviu como espécie de pilar desustentação para manter a economia aquecida. O alerta existe porquetalvez esse mecanismo deixe de atuar com tanta força daqui para a frentepara conter os estragos da crise na economia”, disse Ramos.Eleobservou, no entanto, que existem indicadores que abrem espaço para ootimismo. “Há uma série de indicadores, como o desempenho da Bolsa deValores e a cotação do dólar, que apontam para um otimismo em relaçãoao ambiente econômico. Há motivos para crer que essa substituição doconsumo das famílias por outros instrumentos possa acontecer em curtoprazo.”