Impasse entre países ricos e pobres ainda é entrave para novo acordo climático

10/08/2009 - 6h49

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Aquatro meses da reunião da Organização dasNações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas,marcada para dezembro em Copenhague (Dinamarca), o climaentres os países ricos e os emergentes é de desconfiança,com poucas decisões consolidadas para metas e compromissos emum novo acordo climático pós-2012, quando vence aprimeira etapa do Protocolo de Quioto, e sem encaminhamentos claros sobre ações de financiamento e transferência detecnologia.Na avaliação da secretária de MudançasClimáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do MeioAmbiente, Suzana Kahn, há um “ceticismo mútuo”entre os negociadores de países ricos e de naçõesem desenvolvimento. “Por um lado, os países desenvolvidosargumentam que só o esforço deles não vai sersuficiente, de outro lado, os países em desenvolvimento seperguntam 'se eles não conseguem reduzir nem o que prometeramem Quioto, o que garante que vão se comprometer agora?'. Éuma questão do tipo 'ovo e galinha': se uns não derem oprimeiro passo, os outros também não darão”,compara.Atédezembro, estão marcadas pelo menos mais três reuniõespreparatórias para Copenhague. Até lá, osnegociadores terão que costurar acordos diplomáticospara garantir o consenso na redação e aprovaçãodo texto que sairá do encontro de dezembro. Os esforçosprévios têm avançado menos que o esperado,segundo a secretária de Assuntos Climáticos daEmbaixada da Dinamarca no Brasil, Tine Lund. “Os mandatos dosnegociadores são restritos. Precisamos do nívelpolítico para conseguir maior engajamento”, avalia.A próximaetapa preparatória começa segunda-feira (10) em Bonn(Alemanha). Em setembro, os negociadores vão a Bangkok(Tailândia) e na primeira semana de novembro farão maisuma tentativa de acordo em Barcelona (Espanha).Adefinição de novas metas de redução deemissões de gases de efeito estufa para os paísesdesenvolvidos e de compromissos mais claros para países emdesenvolvimento como Brasil, China e Índia – que jásão grandes emissores – está no centro dos impasses.De acordo com o Painel Intergovernamental sobre MudançasClimáticas (IPCC), o mundo precisa reduzir as emissõesem 80% até 2050. É preciso agora definir quanto dissocaberá aos países ricos e quanto caberá aosemergentes.“Nãoexiste nenhuma previsão no regime de clima para que o Brasilou outro país em desenvolvimento assuma metas quantitativas.Isso desrespeitaria o princípio das responsabilidades comunsporém diferenciadas”, enfatiza o conselheiroda Divisão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentáveldo Ministério das Relações Exteriores, AndréOdenbreit.

O Brasil e outros países em desenvolvimentocondicionam a definição de compromissos – mesmo osvoluntários – a garantias de financiamento vindas do grupode países ricos. Segundo Odenbreit, se o novo acordo climáticonão esclarecer como será feita essa transferência,os países emergentes não aceitarão discutirações mais ambiciosas, em nome do desenvolvimentoeconômico. “Na ausência de aporte financeiro etecnológico, o regime fracassará ou o preço deação dos países em desenvolvimento será acontinuidade da pobreza”, avalia.SegundoSuzana Kahn, o Brasil deve apresentar na reunião deCopenhague os primeiros resultados do Plano Nacional de Mudançado Clima. Lançado em dezembro de 2008, o texto só prevêmetas voluntárias de redução de desmatamento enão exige redução clara de emissões deoutros setores, como indústria e transportes.“Asexpectativas das pessoas às vezes são muito grandes, emum ano você não tem condição de fazergrandes revoluções. Muitos dos projetos que estãolá são para coisas de mais longo prazo. De qualquerforma, em relação à redução dodesmatamento, temos dados impressionantes”, adianta. O governobrasileiro espera para 2009 a menor taxa de desmatamento da Amazôniados últimos 20 anos.