Três meses depois de alerta sobre benzeno em refrigerantes fábricas mantêm fórmulas

04/08/2009 - 9h18

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Milharesde brasileiros que consomem refrigerantes podem, sem saber, estaringerindo benzeno, uma substância comprovadamente cancerígena. Apesar dea associação de defesa dos consumidores Pro Teste ter feito oalerta no início de maio, até o momento nenhuma providência foitomada nem pelos órgãos competentes, nem pelas empresas.

Eles não negam a denúncia e alegam que cumprem os requisitos contidos nalegislação brasileira. De acordocom o Ministério da Agricultura, "não há limite estabelecidooficialmente para o benzeno em refrigerantes".

Segundo a coordenadora institucional daPro Teste, a advogada Maria Inês Dolci, o objetivo inicial daentidade era apenas analisar a higiene e o valor nutricional dasbebidas.

Para surpresa dos pesquisadores, setedas 24 amostras de diferentes marcas submetidas a testes revelaramindícios de benzeno: Fanta Laranja; Fanta Laranja light; Sukita;Sukita Zero; Sprite Zero; Dolly Guaraná e Dolly Guaraná diet.

Como a Agência Nacional de VigilânciaSanitária (Anvisa), responsável pelo controle e fiscalização dosprodutos e serviços que envolvam risco à saúde pública, nãoestabelece limites para a presença da substância emrefrigerantes, os pesquisadores se basearam nos parâmetros legaissobre a existência do benzeno na água para definir um referencial“considerado aceitável” à saúde humana.

Mesmo por esse critério - que opróprio Ministério da Agricultura considera “inadequado” -, aFanta Laranja light e a Sukita Zero foram reprovadas. No caso daSukita Zero, a concentração da substância excedia em quatro vezeso valor de referência.

Responsável por registrar os produtos,o ministério informa que é possível que o benzeno se forme apartir da reação entre o ácido benzoico, empregado comoconservante, e o antioxidante ácido ascórbico.

Sobre o risco de os refrigerantesconterem benzeno, no entanto, o ministério se limitou a informarque, não havendo limites estabelecidos oficialmente para a presençado “contaminante” em refrigerantes, apenas checa se os ácidosbenzoico e ascórbico são usados conforme permitido pela Anvisa.

A agência, por sua vez, informou que“o uso do ácido benzoico em bebidas não alcoólicas” épermitido e que o Ministério da Agricultura “deve checar se oslimites de uso desses aditivos está sendo respeitado” ao concedero registro do produto.

Em resposta enviada à AgênciaBrasil, nenhuma menção é feita ao benzeno, embora já em 2003a própria Anvisa tenha proibido a fabricação, distribuição ecomercialização de produtos que contenham a substância,caracterizada pela International Agency Research on Cancer (Iarc)como “comprovadamente cancerígena”.

“O assunto é sério. Muitaspessoas consomem refrigerantes e já que constatamos a presença debenzeno em algumas bebidas, há uma responsabilidade muito grande dosórgãos reguladores e da indústria”, disse a coordenadora da ProTeste à Agência Brasil.

“Esperamos quesejam adotadas as medidas cabíveis para que seja proibida a presençade benzeno nas bebidas. Sugerimos que os fabricantes substituam umdos dois ácidos do processo industrial e que os órgãos competenteselaborem uma legislação específica que proíba a presença dobenzeno em refrigerantes".

Em respostaenviada à Pro Teste, a Coordenadoria-Geral de Vinhos eBebidas do ministério disse estar levantando informações com osfabricantes sobre quais deles usam a combinação dos ácidosbenzoico e ascórbico, “que podem causar a formação do benzeno”.

O ministério garantiu que estáadotando “as medidas necessárias para desenvolver uma metodologiacapaz de detectar a presença do benzeno em bebidas”.

Falando em nome da Coca-Cola(fabricante da Sprite Zero, Fanta Laranja e Fanta Laranja light), daAmbev (Sukita e Sukita Zero) e da empresa Dolly - procuradas pelareportagem para comentar o assunto e esclarecer se, confirmada adenúncia, alguma providência havia sido tomada -, a AssociaçãoBrasileira das Indústrias de Refrigerantes (Abir) informou que seusassociados não tiveram acesso à pesquisa, não podendo comentá-la.

A entidade informou também que osprodutos citados são registrados “e seus componentes e fórmulasobedecem a todos os requisitos da legislação brasileira de saúde”.