Especialista teme barganha americana entre participação no pré-sal e compra de etanol

04/08/2009 - 21h00

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Até a próxima quinta-feira,o governo deverá encaminhar ao Congresso Nacional medidas provisóriasou projetos de lei para normatizar a exploração de petróleo em águasprofundas (mais de 7 mil metros) antes da camada pré-sal, no litoraldas regiões Sul e Sudeste. A discussão interna na Presidência daRepública tirou hoje (4) o ministro das Minas e Energia, Eidson Lobão, da reuniãoque ocorreu no fim da manhã, no ministério, com o assessor de Segurança Nacional dopresidente Barack Obama (Estados Unidos), o general Jim Jones, que veioao Brasil tratar de questões de defesa e segurança energética.A  agendaconjunta do Brasil e dos Estados Unidos, o maior consumidor de energiano mundo, contempla o etanol, o petróleo da camada pré-sal e a energia nuclear e hidrelétrica. No Ministério das Minas e Energia (MME), JimJones conversou sobre o sistema integrado brasileiro de transmissão de energiaelétrica e do memorando de entendimento (firmado por Lula e o então presidente dos Estados Unidos, George Bush,para criar um padrão de combustível, incentivar a produção de etanol naÁfrica e na América Central e estabelecer a cooperação tecnológica).JimJones falou da possibilidade de financiamento pelo Eximbank (banco defomento americano para comércio externo) para projetos energéticos comoa exploração de petróleo e a construção do complexo hidrelétrico decinco usinas entre os rios Tapajós e Jamanxim, no Pará; e também ouviua exposição sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal. Segundo osecretário executivo do MME, Márcio Zimmermann, a reunião serviu paraJones ter “noção que país [Brasil] é esse”. SegundoZimmermann, no encontro não foi tratado dos marcos legais do pré-sal enem do fim da taxação do etanol como produto agrícola no mercado norte-americano, o que interessa ao Brasil. A presença do assessor de Defesada Presidência americana às vésperas da definição sobre as normas deexploração do pré-sal causou, no entanto, “preocupação” de LuizPinguelli Rosa, diretor do Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbrade Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, ligado à UniversidadeFederal do Rio de Janeiro).Naavaliação de Pinguelli, “o pré-sal tem que ser pensado como o governo temanunciado: para o desenvolvimento do Brasil, para uso da tecnologiabrasileira da Petrobras. Espero que não seja usado como barganha. Ouseja, o Brasil abrir mais o pré-sal para os Estados Unidos, e osamericanos abrirem o mercado do álcool. Isso seria uma péssima solução”, disse.Odiretor executivo da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar),Eduardo Leão de Sousa, não acredita que possa haver barganha. “Nãoconheço esse tipo de negociação. A preocupação extrapola a questão desegurança energética e vai até a da mudança climática”, afirmouacrescentando a questão ambiental. Segundo Sousa, há dois projetos delei no Congresso americano propondo a extinção das tarifas sobre oetanol que poderão ser renovadas até o próximo ano.Para oVirgílio Arraes, professor de história contemporânea da Universidade deBrasília (UnB), os Estados Unidos têm interesse em relação a qualquerpaís que seja grande produtor de energia. Segundo ele, o “Brasilchama a atenção” pela disponibilidade energética e o governo americanotem como diretriz clara diversificar o acesso às fontes. Segundo oprofessor, o interesse brasileiro “extrapola a questão comercial”,disse lembrando da aspiração a um assento permanente no Conselho deSegurança das Nações Unidas.