Pirarucu manejado será beneficiado em indústrias do Amazonas

02/08/2009 - 18h05

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - O comércio de carne de pirarucu no Amazonas e estados mais próximosdeve aumentar consideravelmente em 2010, fortalecido pela quedado preço do produto. Essa é a aposta dogoverno estadual que no último dia 30 autorizou a construção de duas indústrias de beneficiamento do peixe nosmunicípios de Marrã e Fonte Boa, localizados no oeste amazonense. As indústrias serão as primeiras do gênero na AméricaLatina. Em entrevista à AgênciaBrasil, o governador em exercício do Amazonas, Omar Aziz, informou que,com as novas indústrias, a população de Manaus – que será inicialmenteo maior alvo consumidor do produto – poderá comprar peixe, conhecido como bacalhau do Amazonas por cerca de R$ 30 o quilo. Atualmente, o peixe chega a ser comercializado na capital por até R$60 o quilo.Como até o momento não havia nenhuma indústria coordenandoo beneficiamento dessa espécie, o valor do produto acabava sofrendogrande variação de preços até chegar aos maiores centros urbanos. Namaioria dos municípios do interior do Amazonas, por exemplo,  opirarucu é vendido a R$ 3,50 o quilo. “A construção dessasindústrias representa um grande avanço e um novo momento para aeconomia do Amazonas. Não restam dúvidas sobre a excelência da carne dopirarucu, equivalente a de um bacalhau”, avaliou Aziz.Os peixesa serem beneficiados nas fábricas de Maraã e Fonte Boa são de origemsustentável. Virão das áreas preservadas da Reserva deDesenvolvimento Sustentável de Mamirauá, localizada próximo aos doismunicípios.No Brasil, a pesca do pirarucu é proibida de dezembro a maio (períodode defeso), de acordo com normasdo Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis(Ibama).No Amazonas, contudo, a pesca é proibida durante os 12 mesesdo ano e autorizada somente em áreas de unidades de conservação e deuso sustentável e áreas com acordo de pesca. Nessas localidades, acaptura do peixe pode ser feita entre agosto e novembro e realizada sob supervisão do Ibama e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável (SDS).Naopinião do engenheiro de pesca e o especialista em manejo de recursopesqueiro, Gelson Batista, a implantação das indústrias valoriza o trabalho de pesca manejada eestimula o comércio de uma carne tão apreciada pela culinária, semdesprestigiar os cuidados ambientais. Do couro do pirarucu podem serfeitos sapatos e bolsas e a língua é transformada em ralador de guaraná. Pelas variadas vantagens que oferece, explicouBatista,  a sobrevivência da espécie ficou ameaçada.“Desde1999, o Ibama apóia Mamirauá com autorizações para a comercialização dopirarucu. O trabalho na reserva mostra resultados promissores, tanto narecuperação dos estoques desse tipo de peixe, quanto na melhoria dacomercialização do pescado em geral”, considerou.Em Mamirauá,pescadores artesanais experientes contam o número de pirarucus nomomento de sua respiração aérea. Com isso, eles sabem quantos animaisem média vivem na área observada, quantos são adultos, quantos sãofilhotes e, com esses dados, recebem do Ibama o número de peixes queeles poderão capturar.“Durante o processo, é observa-se quantasvezes o peixe subiu à superfície para respirar. Um pirarucu adultorespira uma única vez a 20 minutos, diferentemente de um jovem que vem àsuperfície duas vezes”, finalizou Batista.O pirarucu é um dosmaiores peixes de água doce do mundo. A palavra pirarucu é de origemindígena, onde pira significa peixe e urucu, vermelho. Para respirar, opirarucu precisa subir à superfície dos rios. A espécie pode atingir 3metros de comprimento e 200 quilos de peso.Diferentementede outras espécies tradicionais de peixes na Amazônia,  capazes detrazer ao meio ambiente 1 milhão de filhotes a cada desova, o pirarucusó tem mil filhotes de cada vez. Alguns tipos de peixe atingem a idadeadulta em um ano, mas o pirarucu leva cinco anos.