Rappers avaliam políticas de igualdade racial como positivas, mas pedem mais avanços

28/06/2009 - 16h51

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Radioagência Nacional
Brasília - A 2ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial reuniuativistas do movimento negro, políticos, gestores públicos e tambémartistas. Entre eles, rappers que são considerados referências para ajuventude negra, como Mano Brown, do grupo Racionais MC´s, Rapin Hood eGOG. Eles participaram dos grupos de trabalho e plenárias, mastambém chamaram a atenção nos corredores e palcos da conferência. Ementrevistas, debates ou mesmo no rap, avaliaram as políticas deigualdade racial e ações afirmativas como positivas, mas reivindicaramavanços e criticaram a mídia por não acompanhar as discussõesrealizadas na conferência deste final de semana.O rapper ManoBrown defendeu as cotas nas universidades, mas criticou a forma como têm sido divulgadas pelo governo e pelos meios de comunicação. “Achoque o governo deveria ter maishabilidade para lidar com as cotas. O estudante da cota não deve servisto como um beneficiado. Tem que ser visto como um cara que trabalhoumuito e não foi indenizado pelos direitos. Não como quem vai receberesmola do patrão”, disse Brown.“Se a cor realmente para nós,negros, fosse importante igual é para os brancos, a gente era muito maisunido. A sociedade branca dita as regras do jogo e ai de quem quebrar.Nós sobrevivemos, não vivemos. Sobrevivemos num metro quadrado comcinco, seis, sete pessoas. E o que mais mata nosso povo hoje é oestresse, não é a polícia, que ainda persegue preto como se fosseescravo fujão.” Assim como Brown, o rapper paulista Rapin Hooddefendeu as reparações como políticas necessárias para aumentar onúmero de jovens negros nas universidades e no mercado de trabalho. Eleavalia a Secretaria Especial de Políticas de Promomção da IgualdadeRacial (Seppir) como uma iniciativa que já trouxe mudança.“É ocomeço de um tudo. Daqui a 20 anos quando a gente olhar isso aqui vaiver que valeu a pena”, disse Hood, para quem o rap tem um papelimportante neste debate. “Eu acredito que o rap, junto com outras formasde expressão da cultura negra, tem sido um dos responsáveis poraglutinar o povo preto. O rap cutucou a ferida.”Parceiro deHood, o rapper Pixote também ressaltou o compromisso social dosartistas negros e disse que, em muitos momentos, os grupos de rap foramprejudicados por não falar de temas “mais leves”, presentes em estiloscomo o funk e o axé.“Eu não espero nada do governo pro rap. Ogoverno é o governo, o rap é o rap. Nossa forma de ajudar é dar o salvenas letras no show. O rap pode caminhar com o governo, mas podecaminhar sozinho, sendo dançante e orientando. A gente está com os pé e acabeça dentro da causa”, garantiu Pixote.O rapper brasilienseGOG também destacou a presença da cultura jovem negra no ConferênciaNacional de Promoção de Igualdade Racial e defendeu as políticasafirmativas. “Eu que sou de Brasília é a primeira vez que chego aqui noCentro de Convenções. Precisamos habitar esses locais, que são lugarespúblicos, mas totalmente fechados para nós”, criticou GOG. “Soua favor da política de cotas, das ações afirmativas. Trabalhamos 320anos nessa terra e não recebemos terra, cavalo, nada. E na hora dediscutir as pessoas ainda têm a cara de pau de dizer que estamoscriando uma situação de apartheid no Brasil. Na realidade, eles nãoquerem discutir. Nossa caminhada precisa ser de avanço e eu acreditoque essa conferência tem tudo pra falar assim, como avanço.”