Mercado de trabalho perpetua desigualdade racial, avaliam especialistas

27/06/2009 - 12h15

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Sessenta por cento dos trabalhadoresnegros têm rendimento de até dois salários mínimos. Os negros são a maioria nossetores de atividade econômica com maior jornada de trabalho (como empregodoméstico, 60,8%); com uso mais intensivo da força física de trabalho (construçãocivil, 59,5%) e historicamente menos protegidos pelo sistema previdenciário (setor agrícola, 60,4%). Os negros formam a maioria dos trabalhadores semcarteira assinada (55,3%).Por outro lado, os negros são minoria no conjuntodos trabalhadores com melhor remuneração e melhor condição de trabalho. Dosempregados com carteira de trabalho assinada, apenas 43,2% são negros. Dentro daadministração pública (onde há estabilidade de emprego, entre outrasvantagens), os negros também são minoria (41,3%). Menos de um quarto dosempregadores (empresários) são negros.Os dados foram apresentados pelo economista Ademir Figueiredo,coordenador de estudos do Departamento Intersindical de Estatísticas e EstudosSocioeconômicos (Dieese), durante painel que debateu o mercado de trabalho,promovido durante a 2ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial queocorre em Brasília, com a participação de 1.500 pessoas segundo osorganizadores.“O mercado de trabalho é um dos temas mais caros. Apopulação que mais trabalhou é a que foi mais excluída”, sintetizou o sociólogoJoão Carlos Nogueira, consultor do Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (Pnud). O sociólogo ligou a situação do mercado de trabalho coma qualificação e formação profissional, segundo ele, há um “círculo vicioso”: “aausência de maior número de meninos e meninas negras no ensino fundamentaldiminui o ingresso no ensino técnico”, apontou.Segundo dados do Dieese, 24,6% dos negros com maisde 15 anos não têm instrução alguma; 42,8% têm o ensino fundamental incompleto.No topo da pirâmide, com ensino superior completo apenas 2,3% dos negros,enquanto entre os não negros o percentual é de 8,8%.O diretor de cooperação e desenvolvimento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mário Lisboa Theodoro apontou que omercado de trabalho e a questão racial “são o grande problema do país”. Odiretor rememorou que no século passado o Brasil foi o país que mais cresceu nomundo, no entanto, manteve a estrutura social anterior à modernização daeconomia. “Que capacidade é essa da nossa sociedade de crescer tanto, mas gerartanta pobreza?”, indagou.Na avaliação de Mário Theodoro, os negros foram mantidosexcluídos antes e depois da escravidão. “O negro saiu da escravidão para odesemprego”, disse lembrando que após a abolição da escravatura, em 1888, houvesubstituição da mão de obra negra pela força de trabalho imigrante; e que antesdisso a Lei de Terras (1850) manteve as terras com os senhores que ganharam apropriedade quando o país era colônia de Portugal. Os negros quando libertosnão tiveram acesso à terra e ficaram sem trabalho, explicou.Para o diretor do Ipea, os efeitos da escravidão eda abolição são sentidos até hoje em situações cotidianas como a informalidade dos vínculos deemprego que aflige mais aos negros. “Se a história do Brasil fosse uma semana,poderíamos dizer que a escravidão durou de segunda a sexta, cinco sétimos danossa história”. Para ele, é fundamental tratar a condição do negro no mercadode trabalho. “Enquanto não se discutir a questão racial e o racismo, nós vamoster um país desigual”.O economista Ademir Figueiredo, do Dieese,concordou com Mário Theodoro e sublinhou que “o racismo naturaliza adesigualdade”, se referindo ao comportamento social e às políticasurbanas.