Boi-bumbá e folclore amazônico deixam família “dividida”

27/06/2009 - 17h04

Amanda Mota
Enviada Especial
Parintins (AM) - Uma casa localizada em uma das principais ruas deParintins, no Amazonas, chama a atenção de turistas “desavisados”. Logo após oportão de entrada, a calçada e a garagem da residência foram divididas por umapintura feita, de um lado, de vermelho e, de outro, de azul. Como a cidade é aterra dos bois-bumbás Garantido (vermelho) e Caprichoso (azul) pode-se até pensarapenas que, ao contrário da maioria dos habitantes, os moradores não sedecidiram pela torcida de um único boi.Este ano, para facilitar oentendimento de quem foi a Parintins pela primeira vez, os donos da casacolocaram um grande cartaz com a foto dos seus dois filhos – Júnior e IsraelPaulain – e, abaixo das imagens, a seguinte mensagem: “Um sangue. Duas nações.Que vença o melhor”.Os dois irmãos exemplificamuma situação comum na cidade: a rivalidade folclórica entre as torcidas pelosbois Garantido e Caprichoso. Desde 2005, Israel e Júnior disputam a preferênciados jurados do Festival Folclórico de Parintins. O que chama ainda mais aatenção é que eles concorrem na mesma categoria, ou seja, a de apresentador. Do ladovermelho, está Israel Paulain. Do lado azul, Júnior Paulain. Eles são osporta-vozes dos bois e atuam como mestres de cerimônia da apresentação dosbumbás.“Afamília realmente fica dividida e o festival é um momento de tensão. Pai e mãeficam tensos e tentando, a cada ano, superar da melhor forma esse momento”,afirmou Júnior, em entrevista à Agência Brasil.Ahistória dos dois bois-bumbás de Parintins se misturam às memórias da família Paulain,bem como da população local. Na cidade, até asmarcas internacionais de refrigerantes não devem tomarpartido por uma das agremiações e, por causa disso, chegam a mudar de cor emrespeito aos bois. Durante a programação, até mesmo parte do uniforme dospoliciais militares é alterada. No bumbódromo, quem vai trabalhar do lado do Garantido,tem que usar o colete refletivo da cor vermelha. Já para quem vai para o lado doCaprichoso, o acessório a ser usado deve ser o de cor azul. Para circular dosdois lados e não causar nenhuma polêmica, os policiais usam o uniforme padrãocom o colete refletivo branco, uma cor neutra.Mesmo com essa “rivalidade”, a convivência é harmoniosa entre os parintinenses, assimcomo na casa de Israel e Júnior, que tem 25 e 20 anos, respectivamente. Filhosdo compositor Carlos e da professora Regina Paulain, os dois ainda têm uma irmã, Gabriela.“Alémdas cores e da decoração da casa, que ficam divididas pelas cores azul evermelho, a nossa mãe também fica com o coração dividido. Ela é Caprichoso, assimcomo meu pai e nossa irmã. Mas no item apresentador, ela fica neutra. Eu mesmonão gostaria de estar nessa situação”, disse Israel.“Obviamentetemos entre os dois uma disputa saudável para ver quem vai fazer melhor atéporque todos os itens do boi que defendemos é apresentado e narrado por nós. Afamília é Caprichoso, mas o cuidado com o Israel é permanente. Ninguém quer umclima rivalista e de mal-estar dentro de casa”, complementou Júnior.Ainfluência vermelha para Israel veio de um tio por parte de pai. Segundo Israel, antesdos dois irmãos mais novos nascerem ele já freqüentava o lado vermelho dacidade e isso jamais foi motivo de desavença dentro de casa, apesar da preferênciados pais pelo boi azul. Ele é o apresentador do Garantido desde 2002.“Eununca fui Caprichoso. Antes da minha irmã e do Júnior nascerem, eu ficava nacasa de um tio, que é irmão do meu pai. Ele me levava para o curral do Garantido.Fui me inteirando e me integrando naturalmente ao vermelho. Meus pais nunca meimpediram. Comecei saindo na batucada do Garantido em 1994. Não há nenhumproblema na família por causa disso e tanto eu quanto meu irmão temos apenas apreocupação de fazer um bom trabalho e ajudar o festival. Eu sou a ovelha vermelhada família”, brincou o apresentador do Garantido.