Revitalização do Porto do Rio passa pela ocupação residencial do centro, diz engenheiro

21/06/2009 - 10h53

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Há dez anos, o engenheiro e empresário Jackson Pereira tem como preocupação a região central do Rio de Janeiro, onde está a zona portuária, cujo projeto de revitalização será oficialmente lançado terça-feira (23) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ointeresse é tanto que a sua empresa de construção é um casarão antigona área da Praça da Cruz Vermelha, erguido sobre pedras, com paredes àbase de óleo de baleia, areia e conchas marinhas trituradas e vigas demadeira de lei derrubada da Mata Atlântica no início da construçãocivil carioca.Jackson preside a Comissão de Revitalização deImóveis do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon-Rio), que atua emparceria com a Secretaria de Habitação da cidade na radiografia daocupação residencial em todo o centro da capital.“O centro do Riocompreende toda a Área de Planejamento 1, onde estão as três primeirasregiões administrativas municipais. Na primeira, que inclui os bairrosde Santo Cristo, Saúde e Gamboa, fica a zona portuária e todo o espaçode 50 mil metros quadrados previsto no projeto”, explica.Otrabalho do grupo de 20 pesquisadores - entre estagiários, advogados,arquitetos, engenheiros e outros profissionais - comandado porele é registrar cada imóvel de ocupação residencial e a condição emque se encontra: ocupado, abandonado, em demolição ou simplesmente noterreno. O objetivo é revitalizar e habitar novamente, além delocalizar áreas para novas construções habitacionais.O centrohistórico, com Lapa, Bairro de Fátima, Cruz Vermelha e ruas vizinhas, e o corredor cultural onde se situa a Sociedade dos Amigos e das Adjacências da Rua da Alfândega (Saara) já são alvo derevitalização há mais tempo - um processo semelhante ao que se anunciaagora para primeira região administrativa. Mas a abrangência da área eo nível de degradação dos imóveis de ocupação residencial exigem açõesmais incisivas para se alcançar o nível de revitalização da antiga zonaboêmia dos anos 30, 40 e 50, de acordo com o engenheiro.“Eusempre digo que sai mais barato restaurar o velho do que construir onovo. Por isso acredito no projeto de revitalização de toda a Área dePlanejamento 1, que se estende também a São Cristóvão e até aSantíssimo, na terceira região administrativa”, acrescenta.Aideia de restaurar o velho, como ele defende, tem o objetivo de corrigir umadistorção histórica que se verificou sobretudo a partir da década de 40do século passado, quando foram abertos os túneis de acesso à zona sul e,pouco mais tarde, a Avenida Brasil, franqueando o avanço demográfico emdireção à zona norte. “A consequência foi o esvaziamento docentro, primeiro gradativamente, mas depois da década de 70 num ritmomais acentuado. Há 40 anos, a Área de Planejamento 1 tinha 240 milhabitantes; hoje tem talvez 100 mil. O que houve é que afastou-se apopulação do centro para locais distantes, de acesso caro e demorado,empobrecendo as pessoas e a região central da cidade, que sempre tevevida própria e intensa."Por esta razão, Jackson Pereira nãoacredita em revitalização sem que “passem a noite no lugar”, ou seja,sem que as unidades habitacionais sirvam às famílias, ao comércio, aolazer, ao contexto urbano - precisamente como prevê o projeto dogoverno. “Andam diariamente pela Avenida Rio Branco 1 milhão depessoas, que vivem na zona sul, na zona norte, na Barra da Tijuca...”, explica.Jackson é um apaixonado pelo tema e transforma essapaixão em ação, não só refletida na sede da sua construtora, comosobretudo na sua participação em leilões de casarões no centro carioca,promovidos periodicamente pela prefeitura. Foi nessas ocasiões que eledetectou outro problema, decorrente do abandono.“Você chega noleilão, o imóvel está cotado a R$ 500 mil, mas tem um passivo de R$ 800mil de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e contas atrasadas”, conta. “Ninguém assume, é claro. Aprefeitura tem que anistiar essas dívidas antigas para pensar emrevitalizar de verdade. E vincular essa anistia à destinação do imóvelpara moradias de interesse social, acessíveis a financiamentos de R$ 20mil até R$ 100 mil."Essa providência também faz parte dasérie de outras que poderão ser anunciadas a partir da solenidade dasemana que vem, no Porto do Rio. “Só assim”, enfatiza o engenheiroJackson Pereira, “não veremos mais sem teto nos leilões, que vão láapenas saber quais prédios poderão invadir no dia seguinte, sem riscode despejo imediato”.Título alterado para adequação.