Filme resgata história de resistência de comunidade quilombola no interior de Goiás

19/06/2009 - 20h22

Luana Lourenço*
Enviada Especial
Cidade de Goiás - A história de resistência e a briga pela regularização fundiária daárea quilombola Kalunga, no norte de Goiás, ganhou hoje (21) as telasdo 11° FestivalInternacional de Cinema Ambiental (Fica). O documentário Kalunga, deLuiz Elias e Pedro Nabuco, foi exibido na mostra competitiva.Natela, depoimentos e histórias de moradores da área Kalunga e um retratodos costumes e das tradições africanas mantidas pelas comunidades, que em1982, quando os diretores começaram a filmar, ainda viviam praticamenteisoladas. “Desde a primeira vez vi a beleza do povo, os costumes, opreservado deles. Como estavam isolados conseguiram preservar umahistória diferente da nossa. A beleza da cultura negra estava ainda bemnova, sem ser corrompida pelo nosso processo colonizador”, afirmouElias, emocionado após deixar a sala de exibição sob aplausos.Abeleza das imagens captadas no coração da Chapada dos Veadeiros tambémtem razão política: garantir a regularização das terras quilombolas. Oterritório foi titulado em 2000 pela Fundação Palmares, vinculada aoMinistério da Cultura. Em 2003, a competência para regularização dessasáreas foi transferida para o Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra), que diz estar próximo de concluir o processo. “Essaé a razão do filme. Lutei pelo filme para que eles tenham o direito aoque é deles. A terra é deles, não tem razão para não ser. O presidenteda República falou, o governador falou”, citou Elias, em referência àvisita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao território Kalunga em2004, registrada no filme. Outro conflito, registrado pelodocumentarista na década de 1980 e atualmente revivido pelos Kalunga, éa tentativa de construção de uma hidrelétrica na área quilombola. O projeto atual, da Rialma Companhia Energética, da família Caiado,prevê a instalação de uma pequena central hidrelétrica (PCH) de 30megawatts. A área em estudo para o empreendimento abrange 67 mil dos253 mil hectares da área Kalunga, 26,5% do total.Segundo Elias,que concluiu as filmagens do documentário este ano, a decisão sobreautorizar ou não a construção da PCH tem dividido as lideranças dacomunidade. “Eu não sou ambientalista, sou artista, mas soucontrário à hidrelétrica. Sou contra o empreendimento, mas sou a favorde desenvolvimento, um olhar para eles mais apurado. Não sou a favor deque eles fiquem lá isolados sem dinheiro. Eles têm direito ao consumoque eles queiram ter: escolas boas, roupas boas, ver os filhos formados”, afirmou o diretor. Nopróximo dia 24, os diretores pretendem exibir o documentário para ascomunidades do território Kalunga, durante os festejos de São João. “Comoa polêmica da hidrelétrica está fazendo com que eles briguem entreeles, achei que o melhor lugar para exibir o filme era aqui, num fórumambiental. Se aqui ele foi aplaudido por uma sala cheia, se as pessoasderam um olhar para a questão, isso vai facilitar a decisão deles[sobre a hidrelétrica]”, afirmou Elias.