Estudo indica que desmatamento vai reduzir Cerrado à metade até 2050

18/06/2009 - 18h19

Luana Lourenço*
Enviada Especial
Cidade de Goiás - O ritmo dedesmatamento do Cerrado poderá elevar de 39% para 47% o percentualdevastado do bioma até 2050, de acordo com projeções do Laboratório deProcessamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da UniversidadeFederal de Goiás. E a situação pode ser ainda pior, de acordo com oprofessor Nilson Clementino Ferreira, uma vez que as previsõesconsideram apenas o desmatamento absoluto. “Se for pensar em áreasdegradadas, o número pode chegar a 70% ou 80%”, calcula. Aabertura de áreas para pastagens e agricultura e principalmente oavanço da cana-de-açúcar – impulsionado pela demanda de biocombustíveis– deverão ser os vilões do Cerrado, de acordo com o estudo apresentadohoje (18). A maior parte dos desmatamentos na região até agora, segundoo pesquisador,  está próxima a áreas de pastagem e nochamado Arco do Desmatamento da Amazônia Legal, no cerradomato-grossense.A baixa produtividade da pecuária na região –que chega a destinar mais de um hectare para cada boi – e a situaçãofundiária “vergonhosa”, na avaliação de Ferreira, também contribuempara a previsão desanimadora para a área.As lavouras de cana,que atualmente ocupam 31 mil quilômetros quadrados, devem chegar a umaárea pelo menos quatro vezes maior até 2050, com 145 mil quilômetrosquadrados plantados. “E a expansão deve seguir o eixo da rodoviaBR-153, muitos municípios serão 100% ocupados pela cana”, prevê. Ozoneamento da cana –  prometido pelo governo há anos, mas ainda nãoapresentado – não deverá ser suficiente para conter o avanço daprodução sobre áreas remanescentes de vegetação nativa. “O governoanunciou que a cana vai ter queexpandir sobre áreas degradadas mas não avisou isso aos usineiros. Acana vai onde a terra estiver preparada, geralmente em áreas deagricultura”, apontou. Com a chegada da cana, a tendência é que osprodutores ocupem novas áreas “mais ao norte”, levando as fazendas paraa Amazônia. Segundo Ferreira, a destruição do Cerrado coloca emrisco a disponibilidade de recursos hídricos para outros biomas,inclusive a Amazônia. “Não se pode dissociar os biomas. E há a faláciade achar que ocupar o Cerrado é proteger a Floresta Amazônica e oPantanal, é uma falsa blindagem ecológica”, afirmou. O estudofoi apresentado hoje durante fórum internacional, paralelo àprogramação cultural do 11° Festival Internacional de Cinema Ambiental(Fica).