Novas regras de propaganda de remédios não inibem automedicação, dizem especialistas

17/06/2009 - 16h54

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Entrou em vigor nesta semana a resolução da Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa) que proíbe pessoas famosas, comoartistas, atletas e celebridades, de fazerem anúncios publicitáriosde medicamentos em qualquer veículo de comunicação. Anorma proíbe também a propaganda em programas destinados acrianças, o uso de merchandising com imperativos “tome”, “use”ou “experimente” e estabelece regras para distribuição deamostras grátis e brindes.A resolução, estabelecida em 17de dezembro de 2008, esteve em consulta pública e recebeu mais de 850contribuições.A maioria dosespecialistas ouvidos pela Agência Brasil garante que a medida é“acertada”, “elogiável” e até “um avanço”. Há,no entanto, quem veja limitações. “São mudanças pontuais. Nãose atacou o cerne da questão. O mais adequado é que não hajapublicidade de medicamentos”, avalia a advogada do InstitutoBrasileiro de Defesa do Consumidor Daniela Trettel.“Todo o tipo deprática que faz com que o medicamento seja tratado como qualqueroutro produto banaliza o uso da medicação e expõe a população aoperigo”, alerta.Para José Liporage, diretor-presidente daAssociação Brasileira de Farmacêuticos, a resolução é “umcomeço”. Ele ressalta ainda a vantagem de que a norma se inicia pormeio da “conscientização da população quanto ao uso racionaldos medicamentos”. E admite que a propaganda de remédios deveser “cada vez seja mais restrita”. De acordo comLiporage, o problema da propaganda de medicamentos é induzir àautomedicação. “Você acaba sendo indicado pela propaganda a seautomedicar. A automedicação acaba tendo impacto muito grande noscustos do atendimento à saúde”. Segundo o farmacêutico,a automedicação pode causar reações adversas e efeitos colateraisalém de mascarar doenças e problemas de saúde.Alertasemelhante faz o primeiro vice-presidente do Conselho Federal deMedicina, Roberto Luiz D'Avila. “As pessoas se automedicam porquestão sintomática. Mas, assim, mascaram e perdem sintomas. Tratarsintoma não significa tratar doença”, ressalta.“Para o leigo, afebre é sinal de infecção. Para o médico, a febre é sinal demuitas coisas e também de uma infecção”, explica.Osenador Adelmir Santana (DEM-DF), vice-presidente da AssociaçãoBrasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFarma) e presidente daCâmara de Comércio de Produtos Farmacêuticos da ConfederaçãoNacional do Comércio, se diz contrário à automedicação e à“empurroterapia”.Ele elogia a decisãoda Anvisa: “não há como a gente estimular o uso de produtosfarmacêuticos, até porque o uso de produtos farmacêuticos temefeito colateral”.Santana assinala, porém, que aautomedicação também ocorre por falta de atendimento médico. “Oproblema no Brasil é a deficiência dos serviços médicos, dapresença do Estado. Embora nós saibamos que o atendimento éuniversal pelo SUS [Sistema Único de Saúde], na verdade, vocêprocura o médico e não encontra”, critica.A resolução da Anvisa está disponível no site www.anvisa.gov.br.