Depois de drama na TV, assistência social vai às casas de viciados para combater o crack

14/06/2009 - 12h31

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A realidade de uma mãe, exposta em reportagem de telejornal no Rio de Janeiro,provocou mudança radical no atendimento público aos jovens usuários decrack na capital, com desdobramentos também nas cidades vizinhas. A mãedo rapaz de 20 anos contou sua tentativa de convencê-lo a voltar paracasa e tentar o tratamento contra o vício, ao que ele repetia: “Não, euquero morrer, eu vou morrer, não vou sair daqui”. A família procurouauxílio na assistência social da cidade e ouviu que sem o rapaz aceitarajuda não era possível fazer muito.“Nós temos 40 Centros deReferência da Assistência Social (Cras), cada um com quatro assistentessociais, espalhados pelo Rio, com a expectativa de criar mais 10 até setembro.A partir de agora, eles visitarão as casas de quem procurar ajuda,porque o crack é uma droga que com certeza leva à morte e seu consumocresce de maneira avassaladora”, disse o secretário municipal deAssistência Social, Fernando William, que também se confessou chocadocom a reportagem da televisão.Os Cras atendem a população emsituação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação e oufragilização de vínculos afetivos-relacionais e discriminações etárias,étnicas, de gênero ou por deficiências, entre outras. Outra instânciado Sistema Único de Assistência Social é o Centro de ReferênciaEspecializado de Assistência Social (Creas), num total de nove nacidade do Rio de Janeiro.O Creas é responsável pela oferta de atenções especializadas de apoio,orientação e acompanhamento a pessoas e famílias com membros emsituação de ameaça ou violação de direitos.O governo federal, por meio dos ministérios da Saúde e da Justiça, liberou recentemente R$114 milhões para conter o avanço do crack no país, sobretudo nas duascidades mais populosas, onde existem “cracolândias” há bastante tempo:São Paulo e Rio de Janeiro.Esta verba emergencial será empregada ao longo do ano no tratamento dosusuários, a partir da aquisição de remédios, mas também noacompanhamento psicológico e na terapia de apoio que consolidam arecuperação.“No censo municipal de abandono, do ano passado,registramos 410 crianças e adolescentes abandonados nas ruas dacidade”, disse Fernando William. “São menores e jovens que usavamtinner e cola de sapateiro e agora usam crack, mais barato e muito maisprejudicial”, explicou o secretário. A rotina do seu pessoalrevela que crianças a partir dos oito anos de idade compram pequenaspedras da droga por 50 centavos e se viciam imediatamente.“Oviciado não quer saber de nada, só do crack. Mas a droga é tão violentaque as próprias crianças preveem a morte. Ficam até seis dias semcomer, perdem as forças, a morte é a consequência natural para elas”,disse. Fernando William lembrou também a dicotomia existente entre ocombate ao vício e o Estatuto da Criança e do Adolescente, no qual sãoimpostas restrições ao emprego de força.“Para dar uma idéia decomo o usuário vive exclusivamente para o crack, numa ação comum dasecretaria na área da rodoviária, três agentes sociais só conseguiramconter a violência de um adolescente de 14 anos a muito custo e comalgemas. Sei que corro o risco de infringir o estatuto, mas costumodizer que usaria a mesma força com um filho meu, se estivesse nasituação de risco desses meninos”, admitiu.Ainda segundo osecretário municipal de Assistência Social, o universo de usuários decrack na cidade e nas regiões periféricas pode atingir mais de três milcrianças, adolescentes e jovens. A rápida disseminação da droga, seubaixo custo e a constatação do usuário de que está num beco sem saída,tudo isto no contexto da reportagem exibida na tevê, nortearam amudança de procedimentos da assistência social pública no Rio de Janeiro. FernandoWilliam disse que na maioria dos casos, o viciado sabe o que o aguardae quer deixar o crack, mas se sente impotente. Os familiares, como amãe que expôs o drama publicamente, precisam do apoio e doacompanhamento em todo o processo de recuperação. “A crise deabstinência do viciado em crack é muito violenta para ser tratadadentro de casa, em situação de vulnerabilidade ou risco. Por isto apresença do Estado é essencial não só nesta primeira etapa, a dotratamento químico, mas também em todo om processo de recuperação doviciado”, concluiu.