Fábrica de calçados femininos fecha depois de crime e leva 60 pessoas ao desemprego

12/06/2009 - 1h02

Jorge Wamburg
Enviado Especial
Novo Hamburg (RS) - O técnico em couro Otacílio Martins Pinto, de 60anos, está desempregadopela terceira vez desde que veio de Ponte Nova (MG) para o Rio Grande do Sul, nos anos 80. Em abril deste ano, quando faltava um ano paracompletar os 35 anos de carteira assinada necessários àaposentadoria, por causa de um crime, a fábrica de sapatos femininos ondetrabalhava há três anos fechou, e 60 pessoas perderam o emprego. Proprietária de duas empresas em Novo Hamburgo (Aveto Lucca e FRD), Roselani d'Ávila matou, no dia 15 de abril, o marido e sócio, Flávio, airmã, Rosângela, e a sobrinha, MariaFrancisca. Roselani está presa em Porto Alegre, onde aguarda julgamento. Ela não contou à polícia o motivo do crime, mas comenta-se na cidade que pode ter sido a crise econômica, pois suasempresas enfrentavam dificuldades financeiras, devendo a empregados e fornecedores.Terça-feira passada (9), Otacílio foi mais uma vez ao Sindicato dos Sapateiros, no centro da cidade,para saber se a Justiça do Trabalho já haviaautorizado o pagamento de seus direitos. A resposta negativa o deixou abatido, mas nãosem esperança de receber 15 dias do salário deabril, 13º proporcional de quatro meses (janeiro a abril), duasférias vencidas e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Otacílio, que ganhava R$ 4 mil quando a fábrica fechou, tem mais de R$ 10 mil a receber. Atualmente, ele depende daajuda dos filhos para enfrentar o desemprego e pagar as contas dacasa. Ao procurar um novo emprego, ele chegou à conclusãode que, na sua idade, apesar dos mais de 20 anos de experiência, não adianta entregar currículo nasempresas. "Quando surge uma vaga, entre mim e um jovem, sempre preferem alguém com menos idade, porque sai mais barato."Segundo ele, no Vale dos Sinos, o saláriopara um profissional de sua especialidade chegava a R$ 5 mil há alguns anos, mas hoje, "com acrise", não passa de R$ 3 mil. "Mas, me oferecerem R$1.500, sou capaz de aceitar", disse ele. A Aveto ea FRD eram de pequeno porte, mas só produziam calçadosfinos para butiques. Para queOtacílio e os colegas recebam o que têm direito, aJustiça do Trabalho arrestou todos os bens do casal e estáleiloando máquinas, carros e imóveis.