Só ação da polícia não acabará com milícias, afirma deputado

09/06/2009 - 19h51

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente da ComissãoParlamentar de Inquérito (CPI), que investigou na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a atuação das milícias noEstado, Marcelo Freixo (PSOL-RJ), destacou queações na esfera da polícia são importantes, mas não são capazesde acabar com o crime de milícia no estado. “A ação da políciaé importante, mas o que a polícia vai fazer é prender como ocorreuhoje. É importante uma reação articulada do Estado para que osnegócios, tão lucrativos e rentáveis, não fiquem nas mãos dosmilicianos”, destacou o deputado, se referindo à ação da polícia do Rio para prender 66 integrantes da organização criminosa que controlava comunidades na região oeste do Rio de Janeiro. De acordo com dadoscolhidos pela CPI, só no domínio das vans em Rio das Pedras, naZona Oeste, onde atua uma das milícias mais antigas e maistradicionais do Rio, o faturamento era de de R$ 170 mil por dia. “É preciso tirar dasmãos dos milicianos o controle das vans, da distribuição de gás,o desvio de TV a cabo e uma infinidade de negócios que rendem muitoe acabam atribuindo poder econômico e político aos chefes dasmilícias”, disse o deputado.A atividade de milíciaocorre no Rio de Janeiro há nove anos e é crescente. No final de 2006, apolícia apontava 92 áreas sob domínio de milícias. Quando ostrabalhos da CPI foram concluídos, em dezembro passado, já havia 171 áreas sob domínio de milicianos. Númerosapresentados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro à Comissão deDireitos Humanos do Senado apontam atualmente 198 comunidadesdominadas por milícias.Para Freixo, o que maispreocupa é a inserção política dos milicianos nas esferas depoder do Rio de Janeiro. “Esses grupos tem um elemento a mais que éo que mais nos preocupa. Eles saem da esfera econômica, da dominação territorial e vão para as esferas de poder. Começam não só apoiar alguns candidatos, mas também ospróprios donos de milícias começam a se candidatar e são eleitosvereadores, deputados”, destacou Marcelo Freixo, em depoimento naComissão de Direitos Humanos do Senado, que realizou uma audiênciapública para tratar do problema. Ele destacouque o ano de 2009 é crucial para o combate aos grupos. “O próximo ano é anoeleitoral. Muitos grupos de milícia já têm seus candidatos adeputados estaduais para o próximo ano. Tem grupo aí com anseio dechegar ao poder executivo municipal e estadual”, alertou. “Hoje, o Rio deJaneiro tem dois vereadores claramente envolvidos com a ação demilícias. Falo de dois que estão indiciados pelo relatório.Temos outros vereadores de outras cidades do Rio de Janeiro. Tínhamosum deputado estadual claramente vinculado à milícia mais poderosa, aconhecida Liga da Justiça. Hoje ele se encontra preso e condenado”,destacou, se referindo a Natalino José Guimarães,ex-deputado estadual que foi preso no ano passado.O debate na Comissãode Direitos Humanos do Senado teve o objetivo de alertar os senadoresde que o problema da atuação de milícias, embora concentrado noRio de Janeiro, tem potencial para se instalar nas demais capitaisbrasileiras. “É importante queesse debate seja feito por todo estado brasileiro e não só pelo Riode Janeiro. As condições que levam o Rio de Janeiro hoje a ter umasituação dramática em relação à ação das milícias, sãocondições semelhantes ás encontradas em outros estados. Recentemente tivemos aPolicia Federal prendendo 26 pessoas em Pernambuco, um líder eravereador e acusado de chefiar a milícia", afirmou.