Financiamento e transporte desafiam aumento do comércio para a África

09/06/2009 - 1h50

Gilberto Costa*
Enviado especial
Brasília - Ocomércio do Brasil com o continente africano tem crescidosistematicamente nos últimos tempos e pulou em cinco anos deUS$ 5 bilhões para US$ 26 bilhões. No Senegal, porexemplo, a corrente de comércio (extremamente favorávelao Brasil) cresceu 534% de 2002 para 2008 (atingindo US$ 184milhões).

Amaior presença de produtos brasileiros na África, noentanto, tem dois grandes desafios: aumentar a disponibilidade decrédito para exportação brasileira, para aimportação africana e para financiamento de projetos; emelhoria da conectividade com o continente, por meio dos transportesmarítimo e aéreo.

“Temosque melhorar as conexões aéreas e marítimas eprecisamos ter instrumentos de crédito mais dinâmicos. Avontade de fazer compras no Brasil é grande, temos que saberaproveitar”, assinala Luís Fernando Serra, embaixador noBrasil em Gana.

Linhasde transporte e de financiamento também preocupam o diretor doDepartamento da África no Itamaraty, Fernando Simas Magalhães.Segundo ele, não há linha mercante entre o Brasil e aÁfrica.

Alimitação torna as vendas brasileiras dependentes detransportadores estrangeiros com rotas mais escassas para a África.Segundo Magalhães, o problema é que três ouquatro operadoras fora do controle brasileiro levam os conteineresnas rotas de maior rentabilidade.

Alémdo transporte, Simas Magalhães destaca a questão docrédito. Segundo ele, a missão de empresários àÁfrica Subsaariana pode ser uma oportunidade para entender“toda a mecânica” do financiamento.

Elequestiona a “restrição tão forte” aoscréditos brasileiros. “O que tem hoje funcionando de formaeficaz em crédito para o mercado africano?”.

ParaEduardo Moraes, gerente da Latinex, trading (empresa deexportação e importação) que atua em 15países da África, o crédito é um fatoressencial.

“Pormuito tempo, a gente não conseguiu entrar. Como é queíamos fazer negócio se não conseguíamosobter crédito barato no Brasil?”.

Segundoo executivo, o Brasil tinha “desvantagem história” emrelação à concorrência européia.“As tradings da Europa tomavam crédito oficial baratoe com prazo de até 120 dias para pagar”, lembra ao dizer quea crise econômica nos países desenvolvidos trouxeequilíbrio às condições de financiamento.

AlessandroTeixeira, presidente da Agência Brasileira de Promoçãode Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), admite asdificuldades, mas já vê mudanças a curto prazo.

“Àmedida que for melhorando o comércio nós teremos nãosomente a pressão empresarial, mas a própria pressãodos compradores africanos para que tenha linhas de financiamento”,assegura, lwembrando que quandoo comércio era inexistente não havia razão paradesenvolver mecanismos que facilitassem o comércio.Segundo Teixeira, já estão disponíveis linhasaéreas regulares para a África do Sul, Angola e outracom destino à Turquia com Escala em Senegal. “Isso sóvai melhorar quando houver um volume maior de comércio entre oBrasil e a África”, tem esperança.