Cúpula continental reúne povos indígenas para debates sobre violência e proteção da Amazônia

29/05/2009 - 21h36

Taís Ladeira e Sofia Hammoe
Enviadas especiais da EBC
Puno (Peru) - Lideranças indígenas das Américas estão reunidas no Peru paraa 4ª Cúpula dos Povos e Nacionalidades Indígenas de Abya Yala. Oencontro começou oficialmente hoje (29) e segue até domingo (31).Durante a semana, no entanto, os debates já haviam começado,por meio dos eventos paralelos, como a 1ª Cúpula das Mulheres Indígenase o 2º Encontro da Infância e Juventude Indígena.A Cúpula deMulheres reuniu cerca de 1,5 mil representantes indígenas de todo ocontinente. Entre as reivindicações das mulheres está a proteção daAmazônia, especialmente da Bacia Amazônica, a valorização de suacultura e a descriminalização do consumo da folha de coca, usada há mais de 5mil anos pelas populações indígenas andinas como complemento alimentar emedicamento e para fins espirituais.A violência e adiscriminação contra a mulher indígena também foram discutidas como umproblema comum a todos os países e que deve ser combatido com vigor. Maria Miquelina,indígena Tukano, de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, é doDepartamento de Mulheres da Confederação das OrganizaçõesIndígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Segundo Maria Miquelina, as questões trazidaspelos povos de todo continente não são diferentes das enfrentadas pelasindígenas brasileiras.“Problemas comuns são violência familiar, doméstica,tudo que as mulheres sofrem na sua comunidade, no trabalho. Elascolocaram muito essa coisa aqui e já estamos fazendo isso no Brasil. Agente já está com o apoio da Funai [Fundação Nacional do Índio], com os parceiros, discutindo comodevemos adequar a Lei Maria da Penha [Lei 11.340, que pune com mais rigor agressões contra a mulher no ambiente doméstico ou familiar]”, disse a indígena.”Hojea mulher se defende sabendo que tem seus direitos, procura a delegacia,a Justiça. Mas os homens estão entendendo que isso também é uma formade a mulher ser parte da família. Não pode servir como escrava. Elatambém é uma companheira de luta”, acrescentou.Para o coordenador doMovimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Nei Orzecovisky, a visãodos indígenas sobre a propriedade coletiva da terra, e não como umtítulo individual, é algo a ser considerado pela reforma agráriabrasileira. “Os povos indígenas têm outra visão. A visão deque a propriedade é coletiva, as pessoas têm a posse da terra, vivem emtorno da terra, são parte da natureza. É um debate antigo de que aterra deveria ser posse coletiva, e não um título individual. O que oIncra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] faz é fortalecer a propriedade individual. Como MST, a nossa lutaantiga é que a posse fosse coletiva.”