Justiça Federal suspende retirada de índios Guarani Kaiowá de fazenda em MS

28/05/2009 - 16h46

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - OTribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região decidiuprorrogar por 90 dias o prazo para a retirada de aproximadamente 35 famílias indígenas que ocupam a Fazenda SantoAntônio da Nova Esperança, em Rio Brilhante (MS). Adecisão, anunciada ontem (27), atendeu pedido da Procuradoria Regional daRepública da 3ª Região para asuspensão da ação de reintegraçãode posse emitida pela Justiça Federal em Dourados (MS).O grupo de quase 150 índios da etnia Guarani Kaiowá ocupa aárea desde fevereiro do ano passado para reivindicar ademarcação da área como Terra IndígenaLaranjeira Ñanderu.Por determinação do TRF, a Fundação Nacionaldo Índio (Funai) deverá realizar os estudos necessáriospara avaliar a possível demarcação da áreatambém no prazo de 90 dias.Segundo um dos líderes do grupo que ocupa a fazenda,Faride Mariano, os indígenas estavam apreensivos quanto àpossibilidade de terem de deixar as terras. “Tinha muita gentechorando”, relatou.Osuicídio de um jovem de 12 anos, ocorrido na semana passada, éatribuído diretamente ao anúncio da possívelretirada. Faride contou que o garoto, seu sobrinho, estava presenteno momento em que a comunidade foi informada da decisão pelareintegração de posse por meio do telefonema de umprocurador.Deacordo com o relato do líder indígena, após a notícia, o menino declarou a intenção de tirar a própria vida e disse que preferia morrer a voltar para a "beira da estrada".

Caso osindígenas fossem obrigados a deixar a fazenda, a alternativaseria acampar às margens da BR-163, rodovia que fica perto daárea.

O casodo garoto foi o segundo suicídio no grupo, desde oinício da ocupação. O primeiro registro foi o de um homem, em maio do ano passado.

Relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)aponta a ocorrência de 34 suicídios de indígenas no ano passado,todos de Guarani Kaiowá.

Em entrevista no início deste mês, o líder Guarani Kaiowá Anastácio Peralta disse que o alto número de suicídios “é bastante assustador” para a comunidade e atribuias mortes à perda de identidade dos indígenas diantedos conflitos fundiários e sociais que os guaranis enfrentamem Mato Grosso do Sul.