Líderes indígenas denunciam altos índices de violência e uso de drogas no Amazonas

27/05/2009 - 21h57

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Tabatinga (AM) - É preciso tomar uma providência urgente para conter a violência, o alcoolismo e as drogas que estão cada vez mais presentes nas comunidades indígenas localizadas na região do Alto Rio Solimões, no sudoeste do Amazonas. O alerta foi dado hoje (27), em Tabatinga, pelo cacique da comunidade Umariaçú 1, Osvaldo Mendes. De acordo com o líder indígena, os três problemas apontados estão perturbando o bem-estar desses povos e não têm recebido das autoridades a atenção devida. Mendes ressaltou ainda que, nas comunidades mais próximas aos oito municípios que compõem o Alto Solimões,  não existem dificuldades para o consumo de bebidas alcóolicas e drogas ilícitas, como a maconha e a cocaína. Entre os jovens, acrescentou, “a cachaça está em primeiro lugar”.  Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Fonte Boa, Jutaí, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Toncantins são as cidades que formam a região conhecida como Alto Rio Solimões e que possui, segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), uma população de aproximadamente 50 mil indígenas, a maior do país. Desse total, 90% são da etnia Ticuna e, o restante, dos povos Kocama, Canamari, Maku-Yuhup, Whitota e Cambeba.“A lei proíbe a entrada de álcool nas aldeias. Não entendo como hoje em dia há tanta facilidade de drogas e cachaça na nossa comunidade. Estamos falando de problemas graves que precisam ser resolvidos. Para quem vamos denunciar? A Polícia diz que não é com eles e a Funai [Fundação Nacional do Índio] até agora não fez nada. Por que o pessoal que passa a droga para os índios não é preso? Isso também é violência contra o nosso povo”, declarou o cacique.Segundo relato feito à Agência Brasil pelo líder Ticuna Júlio Almeida, da comunidade Umariaçú 2, há uma relação direta entre a violência e o consumo das bebidas alcoólicas, da maconha e da cocaína. Sem perspectivas de trabalho e de educação (nas duas aldeias só há aulas até o ensino fundamental), os indígenas acabam recorrendo ao uso desse tipo de drogas e, com, isso, afirmam os líderes indígenas, “contribuindo para o crescimento dos números da violência no local”. Na opinião de Almeida, o consumo de drogas pelos indígenas é influenciado pela cultura dos não índios. “A gente quer estudo e emprego para nossos jovens. Hoje falta isso para nós. Depois que termina o ensino fundamental não tem mais o que o nosso jovem estudar. O pior é o contato com os brancos que trazem essas coisas [bebidas e drogas] para nossa aldeia”, lamentou.Localizadas no município de Tabatinga, as comunidades indígenas de Umariaçú 1 e 2 são separadas apenas por uma ponte e abrigam quase 5 mil indígenas da etnia Ticuna. A cidade, por sua vez, é conhecida por estar na tríplice fronteira - Brasil, Colômbia e Peru. A entrada de drogas nessa área é atribuída aos colombianos. Em Tabatinga, as facilidades de trânsito entre Brasil e Colômbia podem ser observadas, por exemplo, em diversos estabelecimentos comerciais, onde o uso da moeda do país vizinho (peso) é tão recorrente quanto o uso do real. “Nos comércios, restaurantes e táxis de Tabatinga o pagamento e o troco podem ser feitos com o peso. Cada real equivale a mil pesos”, contou um atendente de um restaurantre local.As situações de violência, uso de drogas lícitas e ilícitas reveladas pelo cacique Osvaldo Mendes e pelo líder de Umariaçu 2, Júlio Almeida, tiveram destaque hoje, durante o Seminário sobre o Enfrentamento de Situações que Colocam em Risco as Comunidades Indígenas do Alto Rio Solimões. O evento será realizado até quinta-feira (28), em Tabatinga, e é promovido pela Coordenação Regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) do Amazonas, com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O objetivo da iniciativa é conhecer, discutir e propor estratégias e metodologias no enfrentamento aos principais desafios relacionados à saúde mental do povo Ticuna dessa região do Amazonas.“Vamos colocar policiamento para dar apoio à comunidade”, prometeu o coronel Ardaya, comandante do batalhão de Polícia Militar de Tabatinga.Hoje, quase 100 participantes, entre representantes das comunidades indígenas e das prefeituras do Alto Solimões, e também da Funai, Funasa, Unicef, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), entre outros, estiveram reunidos para discutir e conhecer mais detalhes sobre o dia a dia dos povos Ticuna do Alto Solimões. No encerramento do encontro, que ocorrerá amanhã (28), está prevista a apresentação de propostas para o enfrentamento dos desafios. Tudo será avaliado pelas lideranças indígenas. Também participam da programação integrantes do Exército, Marinha e das Polícias Civil e Militar.“Este evento representa um marco histórico para essa região. É a primeira vez que reunimos um grupo tão grande de indígenas e de autoridades para tratar especificamene dos problemas e levantar alternativas para combater esses problemas. Quando se tem saúde, educação e oportunidades, obviamente, se tem menos violência, alcoolismo e drogas”, disse o o coordenador do escritório do Unicef na Amazônia Ocidental, Halim Antonio Girade.