A credibilidade da agência pública de notícias

22/05/2009 - 9h28

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - O leitor FelipeLavorato escreveu para esta Ouvidoria no dia 3 de abril sobre amatéria Empresa apresenta relatório ambiental de hidrelétricapara comunidade quilombola, publicada no dia anterior,solicitando: “ correção da informação apresentada no textosobre a área que o empreendimento deverá ocupar no territóriokalunga. Diferentemente do que foi apresentado (67 mil dos 253 milhectares), o empreendimento ocupará apenas 297 hectares (ou seja,2,97 quilômetros quadrados, o que corresponde a apenas 0,11% da áreatotal do território quilombola e não 26%).”A Agência Brasilrespondeu para o leitor em nove de abril que: “A informaçãosobre o tamanho da área que o empreendimento da Rialma CentraisElétrica deverá ocupar no território kalunga foi retirada de umdocumento oficial do Instituto Nacional de Colonização e ReformaAgrária (Incra), ao qual a reportagem da Agência Brasilteve acesso. Na página 2 do documento extraímos a INFORMAÇÃOTÉCNICA: ‘...a área em estudo pelo empreendimento abrange 67.045hectares (26,5%) dos 253.000 hectares do Sí­tio HistóricoKalunga. A área de reservatório, correspondente a 2,97 km², 0,11%da extensão total do território quilombola’”.O leitor procurandodemonstrar o problema a que havia se referido desde o primeiromomento reiterou, em 14 de abril: “O equi­voco está nainterpretação da informação apresentada na matéria publicadapela Agência Brasil, o texto abaixo destacado, de fato extraí­dodos estudos ambientais do Empreendimento (EIBH e EIA/Rima), remete àárea em estudo, ou seja, a área da Bacia Hidrográfica do Rio dasAlmas que ocupa os 67.045 hectares (26,5%) do território kalunga,sendo que a PCH - Pequena Central Hidrelétrica Santa Mônica(empreendimento em questão) corresponde a uma área de apenas 297hectares (0,11% do território kalunga).”Na referida matériaconsta que: “A PCH Santa Mônica deverá ocupar[negrito nosso] 67 mil dos 253 mil hectares da áreakalunga, 26,5% do total, de acordo com o EIA. A área a ser alagadapara formação do reservatório deverá ser de 2,97 quilômetrosquadrados, 0,11% do território.”A Agência Brasilnão mais respondeu ao leitor sobre sua contestação e a notíciaaté hoje não foi alterada.O leitor LeonardoAmaral escreveu para esta Ouvidoria dizendo que: “Eu moro emParagominas, e tenho certeza de que não estamos falando sobre acidade. O prefeito daqui é Adnan Demacki, nossa população é90.000 habitantes, e nossa produção de farinha não é tão grandeassim!”, referindo-se à matéria Estradas de Tocantinsdificultam transporte da Região Norte para estados do Centro-Sul dopaís, publicada dia seis de maio. Segundo a notícia “Asestradas do estados [sic] Tocantins usadas para escoar a produçãode farinha de Paragominas, localizada no Pará, estãointransitáveis, causando prejuízo de cerca de R$ 1 milhão aomunicípio. A estimativa é do prefeito da cidade, Antônio Mota.”No ultimo parágrafo amatéria afirma que:” O município tem 5,2 mil habitantes,segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), e 7,8 mil, de acordo com os agentes de saúdemunicipais, que também têm suas atividades prejudicadas em funçãodas dificuldades de locomoção.”Em resposta ao leitor aABr informou que: “já estamos fazendo a correção. Narealidade, a cidade é Aragominas, no Tocantins, e não Paragominas,no Pará.”O leitor Flávio VelameTeixeira da Costa escreveu para esta Ouvidoria para apontar que: “Háevidente engano na notícia  Ministério aprovamedidas de apoio a brasileiros que trabalham no exterior,publicada dia 6 de maio. Segundo ele “ O Japão não tem amaior concentração de brasileiros que trabalham no exterior. Dadosoficiais divulgados pelo Ministério das Relações Exterioresexpressam que a população brasileira residente nos EUA é de trêsa cinco vezes maior.”A Agência Brasilrespondeu que: “a notícia e os dados foram retirados dereleases do próprio Ministério do Trabalho. A informação de que oJapão é o país que mais concentra brasileiros que trabalham noexterior também é do ministério. Não há, no site, tabelas oubanco de dados que comprovem esses números.”O leitor Diogo deSiqueira e Silva escreveu para esta Ouvidoria para reclamar sobreinformações contidas na matéria Relatório final da CPI dosgrampos é lido na Câmara, publicada dia 7 de maio. Segundo ele:“O último parágrafo está confuso, e pode levar a diversasinterpretações, como a de que o "sargento" indiciououtro, e tudo isso somado ao fato de que atuaram a pedido deProtógenes (o que é uma inverdade, pois os agentes foram cedidospela Abin, e não a pedido pessoal de Protógenes), enfim... Estámuito mal redigida.”A Agência Brasilnão respondeu ao leitor sobre sua mensagem.O leitor José AltairMonteiro Sampaio escreveu para esta Ouvidoria dizendo que: “otexto desta matéria está sem finalização” referindo-se ànotícia Ipea: primeiro trimestre de 2009 mostrou uma melhoria emrelação ao final do ano passado, publicada dia 8 de maio. Oultimo parágrafo dizia: “Pochmann citou as medidas adotadaspelo governo, como a redução de juros, impostos, a ampliação docrédito, a elevação do salário mínimo, de programas detransferência de renda. Para ele, são medidas decisivas para quenão seja interrompida positvia [sic] dos últimos”.A Agência Brasilrespondeu ao leitor “Já fizemos a correção, inclusive notítulo.”O titulo da matéria,depois de corrigido, ficou assim: Ipea: primeiro trimestre mostroumelhoria no cenário econõmico [sic] em relação ao fim de 2008,e o ultimo parágrafo, depois de corrigido:  “Pochmanncitou medidas adotadas pelo governo, como a redução de juros,impostos, a ampliação do crédito, a elevação do salário mínimoe os programas de transferência de renda.”Sobre a matéria Brasile Paraguai não fecham acordo sobre Itaipu, publicada dia 7 demaio, o leitor Joni Madruga Garcia escreveu: “Gostaria dealertar que, no quinto parágrafo, a cifra relativa à linha decrédito do BNDES oferecida ao Paraguai deve ser da ordem de US$ 1bilhão, e não de US$ 1 milhão.”A Agência Brasilnão respondeu ao leitor sobre sua mensagem.Essas são apenasalgumas das 44 mensagens de leitores que, ou não foram respondidas,ou a resposta dada pela Agência Brasil não atendeu àdemanda do leitor, encontrando-se os processos em aberto, algunsdesde outubro de 2008. Elas mostram a percepção dos leitores sobrea qualidade da informação produzida e constituem importantesindicadores de eventuais problemas no processo de produçãojornalística que precisam ser analisados e, se for o caso,enfrentados com medidas eficazes. Ignorá-las ou simplesmente nãorespondê-las pode ser mais um indicador de que essas medidas sãourgentes e extremamente necessárias, pelo menos no que tange àtransparência e ao respeito com a opinião do leitor. Em jogo estáa credibilidade da agência pública de notícias. Aqui terminava estaColuna na semana passada. A pedido da Chefia da Agência Brasiladiamos sua publicação apostando na eficácia do diálogo parasolucionar os “eventuais problemas” citados no parágrafoanterior, conforme nos foi solicitado. Faz parte das diretrizes dotrabalho de uma Ouvidoria sempre negociar soluções e jamais tentarimpô-las. Por isso mesmo as Ouvidorias são vistasadministrativamente como um dos mais eficazes instrumentos de gestãodemocrática das organizações. As ouvidorias públicas subsidiam os administradores públicos com informações, críticas, elogios esugestões do público, procurando mostrar a qualidade do serviçoprestado ao cidadão no que tange ao atendimento de seus direitosfundamentais, no nosso caso, o direito à informação de qualidade ea formação de cidadãos críticos e conscientes.No diálogo com osgestores da ABr ficou decidido que todas as demandas dosleitores que se encontram pendentes serão solucionadas no menorespaço de tempo possível, uma vez que algumas delas necessitam deum trabalho mais aprofundado e portanto demorado. Também ficoudecidido que se estabelcerá uma agenda de reuniões periódicas paratratar das questões que são comuns à Agência e aOuvidoria, dentre elas, as respostas regulares aos leitores. Até a próxima semana